Às vezes é inevitável ir lá no velho baú de prata onde ficam as lembranças. Lembro da época em que a atual Av. Rômulo Maiorana sequer era asfaltada, só um monte de piçarra e barro batido. O fim da 25 de Setembro, conhecida pelas curvas em S ao redor dos grandes canteiros que serviam às brincadeiras infantis nos fins de tarde.
Não passavam ônibus por lá, mal passava gente: era só os fundos do Bosque, hoje, Jardim Botânico Rodrigues Alves. O tempo passou e foram muitas as mudanças. A rua mudou, inclusive, de nome para homenagear o fundador de um dos principais jornais locais de Belém, que tem sua redação e ilha de impressão instaladas em um de seus quarteirões.
Atualmente, carros e ônibus disputam espaço por lá. Várias pessoas também disputam a vez nos aparelhos da academia ao ar livre ou, simplesmente, o calçadão do Bosque (para mim sempre será Bosque), que serve a caminhantes e a quem está a caminho. Lá, as crianças vão tomar o sol da manhã e os idosos vão fazer seus exercícios.
Até mesmo alguns dos animais que tem no Bosque um refúgio vêm, vez ou outra, olhar o movimento da Avenida. "Olha a fruta, freguesa!". E, rápido, os macaquinhos aparecem para ganhar o seu quinhão. Entre um passo e outro, é só olhar para cima: lá está uma preguiça, no alto de uma das árvores centenárias. Com o ouvido e olhar atentos, através da grade mesmo, percebe-se também cotias e tatus se esgueirando na mata.
Belém tem 396 anos. Já o Bosque Rodrigues Alves foi fundado em 1883 no bairro do Marco, assim chamado pelo fato de ter sido considerado a primeira légua de crescimento de Belém, delimitando a área da cidade, até então, o ponto mais distante de urbanização já atingido, se considerado o atual centro histórico, onde nasceu a morena do Grão Pará. Hoje, a Região Metropolitana vai bem mais além, envolvendo os municípios de Ananindeua, Marituba, Santa Bárbara e Benevides.


Eu cresci junto com esse bairro. Aliás, o Bosque me viu crescer. Passeios de domingo, Dia das Crianças, excursão da escola... No presente, sou eu que levo minha sobrinha para ver lá o peixe-boi, um único exemplar da espécie, naquele pedacinho de Amazônia bem no coração da Metrópole, um refúgio de paz em meio a uma das ruas mais movimentas da cidade, a Av. Almirante Barroso, paralela à Av. Rômulo Maiorana.
Apesar de já ter perdido seus dias de glória, o Bosque permanece sendo bastante visitado e recebe as crianças que ainda não foram totalmente arrebatadas pelos DVDs, vídeo games e jogos virtuais. Quero um dia poder levar meus filhos até lá e contar histórias de encantados: o curupira, a sereia Iara, o boto..., no Bosque, têm até monumentos.

Durante muitos dos meus anos de criança, fui ao Bosque para visitar Tieta. Ainda hoje, quando vou por lá, é inevitável procurar com o olhar, nos lagos de água encardida, um jabuti de casco lascado, é inevitável não abrir o baú de prata onde ficam as lembranças...
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Atrasado, mais a tempo de marcar o mês de aniversário de Belém (12 de janeiro).
:)
2 comentários:
Em minha defesa, só quero dizer que foi sem querer... o jabuti caiu da minha mão...rsrsrsrs ;)
Olha eu aqui de novo atrás de um post novo, e achei alguns... lembro que quando te conheci estavas entrando (ou pensando em entrar) na especialização, e já és Mestre agora! Parabéns! Vai em frente. :)
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