sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Como me inscrever no tempo que me escreve?

Agora que os bem-te-vis bateram em revoada eu já posso dizer para mim mesma: "Relaxe! Concentre-se. Tire da cabeça qualquer outra ideia. Deixe que o mudo ao redor se esfume no indistinto. Melhor fechar a porta, do lado de fora, a televisão está sempre ligada". É assim que se inicia um dos romances do escritor Italo Calvino, "Se numa noite de inverno um viajante".

Coincidentemente, foi isso que eu pensei tantas milhares de vezes antes de começar a ler um bom livro. O meu ritual particular! É interessante como nosso cotidiano é cheio de pequenos rituais: o que fazemos ao acordar, antes de dormir, a ordem das coisas ao iniciarmos nossa jornada de trabalho... mas isso é assunto para um outro post.

Hoje vou rememorar a época em que mais li em toda a minha vida. Aos 16 anos, eu trabalhei em uma biblioteca. Lembro bem do cheiro das prateleiras empoeiradas. Vez ou outra dava pra ver uma traça se esgueirando por entre páginas amareladas. Aquele lugar tinha o ar denso e eu adorava. Devorava uns cinco livros por semana feito um filhotinho de traça em fase de crescimento.

Carlos Heitor Cony, Eça de Queiroz, José Saramago, Gabriel Garcia Marquez, Clarice Lispector, Machado de Assis... meu querido Machado. Eu me desligava de tudo e mergulhava no universo desses personagens de papel. Foi quando eu decidi que queria ser escritora. Eis que, sete anos depois, eu sou jornalista! Ironia do destino? A esperança é a última que morre...

Esse meu apego às palavras, a sensação de catarse que tenho ao riscar uma caneta num papel ou digitar um teclado é bastante antiga. Eu ganhei um concurso de poesia aos 11 anos. Aos 15, escrevia cartas para ninguém e deixava nos bancos dos ônibus que eu pegava na volta da escola (já era meio doidinha...). Dos 18 em diante, foram sempre as redações que me salvaram em todos os vestibulares e concursos públicos que prestei. Tenho até hoje os diários da minha adolescência e insisto em manter esse blog, talvez, por pura vaidade.

Embora não trabalhe mais naquela biblioteca, ainda guardo comigo o afeto pelos livros e o sonho de, um dia, ser escritora. O que acontece é que, agora, vou tentar voltar atrás e reanimar o amor platônico que sempre cultivei pela literatura. Ele ficou um pouco de lado quando me deixei seduzir pelo jornalismo. Já justificando antecipadamente a minha ausência, estarei estudando para ingressar no mestrado em Estudos Literários e tentar recuperar o tempo perdido.

Porém, como Saramago, não hei de ser tão radical. Digamos que, nesse ínterim, "se alguma vez sentir necessidade de comentar ou opinar sobre algo, virei bater à porta deste querido blog, que é o lugar onde mais a gosto poderei expressar-me".

Desejem-me sorte!!

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Paranóia

Hoje caiu uma daquelas chuvas que anunciam a lua cheia... E, ultimamente, eu ando meio assombrada, sonhando com bem-te-vis cantando na minha janela.
Para completar a onda de maus presságios, hoje também morreram o mestre Verequete e o Claude Lévi-Strauss.
Uma coisa pode não ter nada a ver com a outra, mas é rapidinho que a minha mente insana entra em parafuso e cria várias associações que podem render uma noite em claro.
E eu que nunca fui supersticiosa me vejo agora fazendo figas, rezando a Deus, santos e orixás...
Se esse bem-te-vi não sumir logo, eu juro que atiro pedras, quebro com minhas próprias mãos o pescoço dele e ainda arranco as penas!!