sábado, 31 de dezembro de 2011

Balanço

2011 encerra hoje com um saldo positivo. Sim, foi um bom ano. O Repórter de Sandálias teve 11 posts e 2.685 visualizações de páginas em 10 países diferentes (Brasil, EUA, Portugal, Alemanha, Coreia do Sul, Paquistão, Rússia, Japão, Letônia e Taiwan).


É claro que isso é bem menos do que eu poderia escrever se não estivesse um pouquinho ocupada fazendo mestrado (em 2009 foram 35 posts, caindo para 12 posts em 2010, quando comecei a pós), mas uma das minhas metas para 2012 é, justamente, cuidar melhor do blog, atualizá-lo com mais frequência e ter mais carinho pelos meus leitores que, embora sejam poucos, são fiéis.

Afinal, a bloqueira que agora vos fala (ou vos escreve - a pergunta cruel da banca examinadora ainda ressoa em minha cabeça desde a defesa: "O que é a escrita para você, Jéssica?") é mestre em literatura!

Ainda não sei bem o que fazer com esse título, mas o obtive com muito esforço, noites perdidas e baladas recusadas, o que me renderam duas olheiras fundas e roxas que eu não tinha até 2009, antes de começar o mestrado.

Já o saldo positivo é bem mais promissor: um novo blog! Para todos que, como eu (e como a minha banca não pode deixar de perceber: "Você tem que tomar distanciamento, Jéssica!"), são apaixonados pela blogosfera.

O blog Webliteratura é o produto final da minha dissertação de mestrado. Ele não era o objetivo principal, mas tornou-se o objetivo fim da pesquisa. Portanto, um novo espaço para discutirmos, comentarmos ou simplesmente navegarmos pelos bytes (web)literários da informaré, como diria Gilberto Gil (ouça aqui). 

É fato que o blog mal foi criado e já está desatualizado, mas isso é porque eu também sou filha de Deus e mereço um bom descanso. Logo, logo pretendo voltar à ativa e, quem sabe, transforme o Webliteratura em projeto de extensão!

Como a vida não é feita só de trabalho, eu também fiz a minha lista de promessas de ano novo. Quero um 2012 mais leve, com mais leituras feitas por prazer do que aquelas leituras obrigatórias, se me permitem a analogia. Então, vamos às metas:

1 - Acordar tarde, dormir depois do almoço e ir pra cama cedo (foi comprovado cientificamente que dormir bem, faz a gente pensar melhor!).
2 - Namorar muuuuiiiiitoooo!!!
3 - Fazer exercícios físicos (adeus sedentarismo!).
4 - Comer menos e melhor (sinto muito pizzas e x-burgeres, quero qualidade de vida!).
5 - Ler mais livros, de preferência, romances (aqueles que os professores não recomendam).
6 - Ver mais filmes e ir mais ao cinema (passei 2011 inteiro assistindo apenas animações e comédias românticas para me abstrair da rotina hard...).
7 - Me atualizar em termos de música e ir mais a shows (descobri um paraíso de cds e dvds na Big Bem da Batista Campos).
8 - Passear mais ao ar livre (odeio a sensação de começar a trabalhar em dia claro, nem ver que choveu, nevou, passou um furacão ou pegou fogo na casa da esquina para sair do escritório em noite alta...).
9 - Viajar mais, conhecer lugares novos e visitar os que já conheço com um novo olhar.
10 - Rir mais, sorrir, gargalhar, achar graça e todos os sinônimos possíveis para o ato de mostrar os dentes em uma manifestação efusiva de alegria (xô, esteresse!).

São promessas fúteis, eu sei, mas eu mereço!

:)

E vocês, me contem, quais as suas metas para o ano novo?

sábado, 15 de outubro de 2011

Me escreva tão logo possa

Ando meio ausente, minha gente, é verdade. Mas é por uma boa causa. Estou finalizando A Pesquisa. É, essa mesma... Mas não desistam de mim! Em breve, o blog volta com super novidades. Enquanto isso, vai um rascunho de um dos "n" projetos que existem na intenção desta pesquisadora e que um dia hão de tornarem-se reais. Aproveito para pedir a opinião de vocês: digam-me, fariam diferente? Que nomes dariam aos personagens? Como imaginam o desfecho?

*****

Projeto para um romance:

Alguém escreve cartas aleatórias, sem destinatário específico, mas com palavras que se enquadram ou encontram identificação em diversos dramas cotidianos, pois fazem referência a conflitos humanos comuns à vida ordinária. As cartas são deixadas também aleatoriamente em lugares públicos da cidade apenas com uma única identificação: a assinatura Repórter de Sandálias.

Muitas pessoas passam pelas cartas e não as percebem, várias vão parar nos lixões ou nas fábricas de reciclagem sem nunca terem sido lidas, mas outras, ao trazerem manuscritas no verso as palavras "para você" chamam a atenção da protagonista 1, que, ao encontrar a primeira carta no banco do coletivo que apanha diariamente - e, depois, outras em lugares que costumava frequentar no dia a dia - passa a viver a aventura de ir em busca dessa remetente misteriosa. A caçada a leva a perigos, aprendizados, e, a um romance.

A protagonista 1, então, recorrerá à Internet para descobrir algo sobre a Repórter de Sandálias e, para sua surpresa, encontra um blog com o mesmo nome, onde também estão postadas algumas das cartas que encontrou na rua e muitas outras, todas com a referência de endereço do local onde foram deixadas na cidade. A protagonista 1 começa a fazer uma coleção das cartas. Tão logo eram postadas no blog, ela saía em busca do lugar indicado, tentando criar uma arnadilha para desvendar o mistério e a identidade da Repórter.

Em uma confusão com uma das cartas, a protagonista 1, na Universidade, chama a atenção do protagonista 2, que entende que a carta que ela deixa displicentemente a vista com as palavras "para você" teria sido escrita por ela para ele com finalidades amorosas.

Após esclarecido o mal-entendido, ambos se unem na aventura e acabam se apaixonando durante a busca. Em conversas filosóficas na tentativa de interpretar e descobrir o que se passa no coração da Repórter, os dois resolvem que é "amor" o que falta na vida da remetente anônima e passam a procurar por alguém que poderia ser sua alma gêmea.

A descoberta final é....

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Blog: uma "nova" literatura?

Está aí uma questão difícil de mensurar. A blogosfera é um mundo a parte dentro do ciberespaço. Nesse mundo, é possível encontrar de tudo, para o bem ou para o mal. O fato é que as próprias características do gênero blog permitem uma diversidade de escrita que não o amarra a nenhuma categoria: jornalística, literária, crítica, opinativa, confessional... As possibilidades são infinitas.

Aliás, há até quem resista em classificá-lo como gênero. A livre expressão e a hibridez de linguagem fazem-no navegar sem uma direção muito bem definida nesse oceano de informações proporcionado pela Internet. No entanto, na necessidade de teorizar sobre o fenômeno da ciberescrita - as diversas que nascem com a explosão das redes sociais que, a cada instante, criam novas galáxias nesse universo virtual -, alguns autores instituem o conceito de e-gênero, os gêneros eletrônicos ou ainda gêneros textuais digitais, onde enquadram-se os blogs.

Os blogs são espaços que permitem uma escrita diferenciada, sem limites, embora fragmentada, e que mescla signos que vão do sonoro ao visual, do imagético ao textual, uma escrita constituída mais do que somente por letras e palavras; composta por bytes, as unidades de informação que formam o código digital e são responsáveis por armazená-lo na Web. Cada byte, contém oito bits e a reunião deles em um sistema organizado de códigos permitem a configuração desse intrincado e irresitível hipertexto, que nos leva por janelas a fora na rede mundial de computadores.

Criei meu próprio blog na rede há quatro anos para ocupar um período de tempo ocioso de minha vida e, hoje, não apenas o meu blog, como a blogosfera de um modo geral, ocupa grande parte de meus afazeres e pensamentos: tenho um objeto de pesquisa. Na verdade, sempre tive o hábito de escrever, seja em diários, agendas ou mesmo em rodapés de livros, cadernos, páginas soltas, pequenos blocos de anotações... Foi fácil, então, me sentir atraída por essa espécie de papel virtual.

Cada novo post é uma parcela incorpórea de um sistema digital que me permite criar um arquivo pessoal na Internet e compartilhá-lo com um público leitor, usuários da rede como eu, que também encontram nesse novo universo uma nova forma de praticar e fruir, de maneira assíncrona, diversos tipos de informação, dentre elas a literária. Foi assim que adiquiri o hábito de "fuçar" a Internet em busca de blogs, cada um com a "cara" de seus autores, mundinhos particulares que refletem a alma, o coração e o intelecto de quem os cria para livre avaliação e interpretação de quem os descobre.

Nessas minhas incursões pela blogosfera, encontrei diversos tipos de textos, alguns capazes até de unir qualidade de estilo e maturidade de escrita a um aguçado senso crítico, tudo aos moldes do hipertexto. Quando optei por fazer dos blogs meu objeto de estudo, minha principal questão era: será que esses textos - que provocam deleite e devir, baseados em fatos reais ou pura ficção, em formato de prosa ou poesia, tantas vezes escritos por anônimos ou desconhecidos, e que ainda assim agregram inúmeros admiradores - podem ser classificados como Literatura?

Se considerarmos o conceito de literatura como a arte de criar e recriar textos capazes de produzir efeito estético e provocar a catarse, a resposta é sim. Mas, e se consideramos a definição de Literatura do ponto de vista canônico, será que a resposta é a mesma? 

Na fase de elaboração do projeto de pesquisa, percebi que, mais produtivo do que tentar definir o que é ou não Literatura é encontrar um caminho para decidir o que torna um texto, em sentido lato, literário. Assim, assumi a missão de investigar qual o lugar da literatura quando entram em cena os novos formatos de escrita possibilitados pelas tecnologias digitais e, dessa forma, especificar as singularidades que esses discursos apresentam no ciberespaço a partir do conceito de webliteratura.

À revelia do questionamento se o que não é canonizado pode ser ou não considerado Literatura, o qual parece eternamente sem resposta, podemos dizer que, na Web, é possível encontrar um “outro” literário que, embora se aproxime, ao mesmo tempo, se distancia dos moldes pré-definidos pelo cânone, uma vez que se constrói a partir da subversão de fronteiras permitida pelo universo virtual e pelo hipertexto.

E, como se configura essa modalidade diferenciada de discurso literário e produção narrativa que se manifesta a partir do surgimento da Internet? Esse é o assunto que pretendo trazer para discussão na mesa "Blog: uma 'nova' literatura?" (dia 4 de setembro, às 15h, no Hangar Centro de Convenções da Amazônia), que intregará o seminário "Leitura e escritura na Era da Internet", o qual faz parte da programação da Feira Pan-Amazônica do Livro 2011, marcada para o período de 02 a 11 de setembro de 2011.

Se você é fã de blogs e de literatura, como eu, não perca!

:)

Responda você também: na sua opinião, blog é literatura?
 

terça-feira, 12 de julho de 2011

À meia noite e em todas as horas, em qualquer lugar

Tá, tudo bem, realmente exagerei no último post. Aposentadoria é um pouco demais..., digamos que umas boas e verdadeiras férias, daquelas em que curtimos sombra e água fresca, literalmente de pernas pro ar (com ou sem sadálias), resolvam o meu problema. Pena que não é o caso: entrarei de férias pela metade, pois continuarei trabalhando em casa. Mas já é um bom começo.

Essa história de pular de fases ainda me rendeu muitos pensamentos essa semana.

Eu estava justamente refletindo o quanto o ser humano parece ser um eterno insatisfeito com a vida, o tempo e o presente momento, quando me vi, me encontrei, me identifiquei (e outros sinônimos afins) - em total sentimento de catarse - com o dilema do personagem principal do Meia Noite em Paris, primeiro Woody Allen que assisto no circuito comercial e que já é sucesso de bilheteria em todo o mundo.

E não apenas: também me vi no papel da coadjuvante, noiva do personagem principal, sempre reclamando de tudo... Já explico.

Como sempre, as tramas do Woody Allen transcorrem lentas e com simplicidade, mas com cenas que surpreendem a cada dez minutos de filme e terminam com uma grande sacada que muda o sentido da nossa existência.

Estar em Paris faz com que o personagem principal, depois de muito tempo de olhos vendados, volte a se questionar sobre os rumos que até então vinha dando a sua vida, resgatando em seu íntimo o velho sonho de se tornar um escritor reconhecido, como os imortais que marcaram época na capital francesa dos anos 20. E o sonho é tamanho que o permite viver uma aventura fantástica em que viaja no tempo e conhece pessoalmente os literatos que sempre admirou e foram sua fonte de inspiração.

Tempo é a palavra-chave no roteiro. É indo e vindo dos anos 20 aos anos 2000 que o personagem percebe que não é preciso estar em outra época, seja no passado ou no futuro, para viver intensamente e dar vazão aos seus desejos mais sinceros, basta se permitir e arriscar sem medo de ser feliz. A vida é o presente e estar satisfeito com ela só depende de nós mesmos!

E com esse aprendizado percebi o quanto, tantas vezes, me comportei como a antipática do filme, a noiva chata, perfeccionista e um tanto fútil, que está sempre reclamando de alguma coisa e acha que a felicidade está em conceitos pré-definidos pela sociedade do que é belo, culto, politicamente correto, economicamente rentável... Não quero ser assim!

É por isso que eu retiro o que disse no post abaixo. Vou tentar viver o presente em sua plenitude, aproveitando cada segundo dos bons momentos e tentando, por mim mesma, modificar o que não me agrada, correndo atrás dos meus sonhos e me permitindo realizar os meus desejos mais bobos, sem esperar que a solução para qualquer coisa venha do aquém ou do além-tempo do que eu esteja, aqui e agora, experienciando.

O que um Woody Allen não faz com a vida da gente!!

:)

Assista ao trailler aqui.

sábado, 2 de julho de 2011

Dolce far niente

É até clichê utilizar o espaço dos blogs para falar sobre os pequenos prazeres da vida, mas, com tanto trabalho, ultimamente, apenas consigo pensar o quanto é prazeroso acordar em uma manhã de sábado e não ter absolutamente nada para fazer. Claro que esse não é o meu caso, tanto que até escrever no blog, um dos pequenos prazeres a que sempre gostei de me dedicar, tem ficado cada vez mais difícil.

A verdade é que sempre vivemos as fases de nossas vidas na expectativa de poder chegar logo na próxima. Por exemplo, hoje lembro com saudade dos tempos de colégio, quando a responsabilidade resumia-se ao dever de casa, após o soar da campa de saída. Tinha tardes inteiras para assistir "vale a pena ver de novo", comer brigadeiro de panela e fofocar ao telefone com as amigas. Para as provas bimestrais, nada que uma lida de véspera no resumo das matérias não resolvesse.

Na época, o que eu mais desejava era completar logo os 18 anos e entrar na faculdade. Não vou negar que a maioridade também tem os seus prazeres, mas, daí para as responsabilidade maiores é um pulo só. Tão logo nos formamos, temos que arrumar o emprego ideal e ser alguém na vida. Mas isso não basta. Depois, temos que fazer pós-graduação, estudar para concurso, organizar casa, casamento e ter filhos... Faz anos que não sei o que é assistir sessão da tarde com um balde de pipoca no colo! Hoje percebo o quanto eu era boba ao reclamar disso, dizendo: "mãnhêêê, não tem nada pra fazer....". A resposta vinha sempre com um "vai lavar louça, minha filha, arrumar o quarto, varrer a casa...". Isso não vale!

Para seguir o curso natural das coisas, talvez no futuro eu me arrependa, mas, a fase que estou vivendo agora me faz, desde já, ficar ansiosa pela aposentadoria, quando poderei desfrutar como nunca dantes, bem ao estilo italiano, o doce prazer de não fazer nada :)

"Eu quero uma casa no campo, onde eu possa ficar do tamanho da paz e tenha somente a certeza dos limites do corpo e nada mais...".

sábado, 7 de maio de 2011

Benquerença

A pedidos, posto aqui o texto que escrevi e li no casamento da minha irmã... Dessa vez, as lágrimas são virtuais... ;)

*****

Quem trabalha com as letras sempre é o primeiro a ser apontado nessas situações, mas como eu poderia negar algumas palavras para minha querida irmã, a quem eu tanto amo, em um dia tão especial?

Embora seja eu a caçula da família, quem sempre teve o que aprender e raramente o que ensinar na vida, lembro de um dia em que Jennifer e eu, já distantes pelos quilômetros que levam de Belém até São Paulo, conversávamos pela Internet. Ela me dizia - machucada, desiludida - não acreditava mais no amor.

Eu, metida a jornalista intelectual e poeta do mal do século, por muitos anos vivi e pensei exatamente a mesma: "ah, o amor é um sentimento previamente fabricado pela indústria do consumo!". "Essa coisa de príncipe encantado num cavalo branco não existe!".

Maaasss, a vida vai passando, a gente vai crescendo, tendo novas experiências, conhecendo novas pessoas... que, de repente, me vi discordando da minha irmã mais velha, e, naquele dia, disse a ela: o amor é combustível, o amor é que nos faz querer viver, seguir em frente, faz o mundo ter sentido.

Na esperança de convencê-la, citei Saramago, para quem, na vida, é preciso amar e, amar sem medidas, "se não a existência torna-se rapidamente previsível, monótona, uma seca...". Porque o amor é o colorido das coisas, é o chão que nos sustenta, ou a falta dele, que nos faz flutuar.

Citei Camões e as clássicas palavras que passam de geração em geração para mostrar que "O amor é um não querer, mas que bem querer".

E por mais que um dia já tenhamos um dia sofrido por amor ou pela ausência dele jamais poderíamos deixar de acreditar nesse sentimento, porque, como disse, certa vez, Guimarães Rosa, na simplicidade de um de seus personagens mais complexos: "“Só se pode viver perto do outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tiver amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso da loucura”.

E o amor cujo nascimento celebramos aqui hoje (30.04.2011) não é qualquer amor, é um amor verdadeiro, de calor e aconchego, um amor que pode gerar uma família, um lar. Um amor de marido e mulher, Flávio e Jennifer, a quem desejo todo o amor e toda a felicidade do mundo!

Que Deus abençoe o amor de vocês!!!

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Dádiva

Quando secar o úmido do banho recém-tomado
Quando aumentar a espessura do tempo que se move
Quando o relógio soar a hora do vazio da tarde quente
Vou perfumar a pele, soltar os cabelos ralos
Vestir-me a seu gosto e pintar o rosto em brasa
Esperar pela tua chegada, sempre como um tufão
A desordenar as coisas inertes
Preenchendo as lacunas da convenção e da hiprocrisia
Com tua verdade tão autêntica e tão nobre
Lépida, me jogo em teus braços
Me perco em afagos
Me desfaço em pedaços, de vários eu aprisionados.

****

Em dias de romatismo, vá lá um poeminha para alegrar o coração e despertar paixões....
:)

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Tempos mais que modernos

Há algum tempo tenho me dedicado a pensar e analisar o papel que a tecnologia desempenha na sua relação com a linguagem. Em visita a Belém, no dia 31 de março de 2011, Lúcia Santaella, uma das semioticistas mais conhecidas e bem pagas nos terrenos nacionais e internacionais da comunicação, letras e artes, me ajudou nessa empreitada falando sobre os "35 anos de convergências tecnológicas", desde o surgimento dos primeiros maquinários provenientes das sucessivas revoluções industriais até o contexto atual, em que a tecnologia digital, do celular, ao cartão de crédito, do notebook ao ipad, passam a regular todo tipo de relação humana ou social que se desenvolve sob a égide da "pós-moderndiade".

Em 1936 Charlie Chaplin já mostrava o desafio que é sobreviver em meio a um mundo moderno e industrializado, quando as máquinas tomam o lugar dos homens e tornam-se suas próprias mãos, mentes e laços. Tempos Modernos é o último filme mudo de Chaplin, que focaliza a vida urbana nos Estados Unidos nos anos 30, imediatamente após a crise de 1929, quando a depressão atingiu toda sociedade norte-americana, levando grande parte da população ao desemprego e à fome. É uma crítica à "modernidade" e ao capitalismo representado pelo modelo de industrialização, onde o operário é engolido pelo poder do capital e perseguido por suas idéias "subversivas".

A cena inicial da película mostra Carlitos, funcionário de uma grande fábrica, entrando em colapso pelo excesso de trabalho e pelo efeito provocado pela produção em série e em larga escala, que padroniza as ações humanas e deixam o cidadão no limiar da loucura e da escravidão. socialista e é levado à prisão, onde aprende a apreciar os prazeres do ócio, chegando ao ponto de sentir-se mais livre ali, atrás das grades, do que se tivesse que trabalhar em fábricas para sobreviver.

Ao ser libertado, de volta à realidade cruel da sociedade industrial caracterizada pela produção com base no sistema de linha de montagem e especialização do trabalho, Carlitos assume a identidade do vagabundo, o flaneur, que vaga a esmo pela cidade, com fome, sem destino, em busca de emprego ou aventuras, olhando as vitrines dos sonhos, dos bens e dos desejos que não pode realizar, ter ou saciar. Ao se apaixonar por uma pobre órfã, o vagabundo pensa em "voltar aos eixos", trabalhar e construir a vida ideal da família burguesa, pautada pelo conforto, a diversão e a alienação de quem tem pão, circo e não se importa com os problemas sociais.

Mas, no mundo moderno, não há lugar para os desajustados...


Se a primeira geração da revolução industrial já sofria tanto com os efeitos e impactos tecnológicos provocados pelas máquinas capazes de produzir mercadorias..., que dirá as gerações mais recentes que advém da era em que as máquinas são capazes de produzir linguagem, traduzir códigos alfabéticos e permitir a comunicação em longas distâncias, quebrando as barreiras do espaço-tempo e criando os domínios da virtualidade!

Nos tempos contemporâneos, as tecnologias digitais moldam uma linguagem que nasce e é própria das redes virtuais...

É pensando nisso que Santaella, em seu livro "Linguagens Líquidas na Era da Mobilidade" (2007), identifica cinco gerações que marcam a cronologia das tecnologias da linguagem e da comunicação: 1) tecnologias do reprodutível, caracterizadas pelos meios eletromecânicos de comunicação em massa, a exemplo do jornal, da fotografia e do cinema; 2) tecnologias da difusão, onde figuram os meios eletroeletrônicos de comunicação de massa, como o rádio e a televisão; 3) tecnologias do disponível, gadgets que fazem surgir a "cultura das mídias", regulada pelos meios digitais de comunicação de massa, responsáveis por hibridizar diversos gêneros e linguagens; 4) tecnologias do acesso, geradas pelo surgimento das redes e pelos avanços da teleinformática, onde estão inseridos o computador, a internet e as mais diversas interfaces gráficas; 5) e por fim, as tecnologias móveis, representadas pelos meios móveis com acesso à rede de informação e comunicação, como os notebooks, blackberries, iphones, ipads e afins.

O fato é que, à medida que a comunicação entre as pessoas e o acesso à internet e à informação, na contemporaneidade, favorecem a interferência e a intromissão do virtual na vida real, como ocorreu na modernidade com o personagem de Chaplin, modificam-se as relações de sociabilidade, o psiquismo, a cognição e, inclusive, a corporeidade dos seres humanos, que passam a associar à máquina a sua razão e maneira de existir, estar, pensar, ser e sentir no mundo. Do ponto de vista da linguagem, as tecnologias móveis e de acesso eternizam a escrita, o som e a imagem em uma proliferação infinita de signos, além de uma sintaxe essencialmente híbrida.

Quem não se ajustar a essas novas engrenagens, definitivamente, estará fora de época...




.

quarta-feira, 16 de março de 2011

De soslaio

Algumas histórias começam ao acaso, in media res, e ficam abertas ad eternum. Foi assim com aquele pequeno grande sábio, homem simples, marcado pelo tempo e que, talvez por isso mesmo, exalava conhecimento.

Apesar da pele enrugada, os cabelos brancos, os passos que já eram lentos e a voz rouca, os olhos eram vivos como os de uma criança travessa:

Olhando, de soslaio, para o infinto. Olha-se para o infinito? E de soslaio?

Era um filósofo, questionar era seu ofício. Nenhuma pergunta lhe bastava quando o mundo lhe oferecia uma infinidade de respostas.

Cada qual encontra na Terra o paraíso que merece, o meu é livresco.

O pensamento era seu fiel companheiro. Muitas vezes era possível encontrá-lo absorto, com o olhar distante. Na mente, uma tempestade de ideias sempre constante.

Não há fórmula para se fazer poesia. O poema está sempre inacabado, não cessa e sempre se renova.

Seu próprio eu inspirava poesia, sua calma transmitia paz, sua sabedoria instaurava revoluções... Como conciliar os sentimentos mais fortes com o prosaismo do mundo?

A morte não pode atingir a essência da sabedoria.

O conhecimento é o único bem que se adquire por toda a eternidade.

Benedito Nunes
1929-2011

sexta-feira, 4 de março de 2011

A injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todo lugar


Mais um caso de morosidade da justiça


Vou fugir um pouco do estilo do blog para tratar de um assunto um tanto quanto denso, mas que não pode ser silenciado. Não podemos deixar as injustiças tomarem conta de nosso Estado, principalmente quando são cometidas pelos próprios órgãos que deveriam, ao contrário, garantir os direitos dos cidadãos... Leiam, comentem e divulguem para o máximo de pessoas que puderem. Vamos combater essa Justiça injusta que não atende os interesses da maioria!!!

*****

TJE protela nomeações de concursados e Oficiais de Justiça prometem paralisar suas atividades

Oficiais de justiça do Estado do Pará prometem paralisar suas atividades por tempo indeterminado. O motivo é o atraso na contratação de 30 novos oficiais aprovados em cadastro de reserva no concurso público realizado no ano de 2009 pelo Tribunal de Justiça do Estado do Pará (TJE-PA). Somente em Belém e região metropolitana, há, atualmente, um déficit de 130 oficiais e 150 cargos em vacância. Após uma série de acordos entre as duas partes descumpridos pelo TJ desde janeiro de 2011, a última promessa foi a de que as nomeações sairiam no dia 1º de março, mas nada aconteceu.

Segundo o presidente da Associação dos Oficiais de Justiça do Pará (Assojupa), Edvaldo Lima, em sete meses, houve mais de 30 reuniões da categoria com a presidência do Tribunal e representantes de suas corregedorias e secretarias de Gestão, Planejamento e Recursos Humanos. Primeiramente, o TJ alegou a necessidade de realizar concurso de remoção. “O concurso já foi realizado, a sobra de vagas continua, já há recursos disponíveis, e o Tribunal permanece em silêncio quanto às nomeações. Não há mais motivos para protelar a reposição e contratação de novos profissionais, a não ser a morosidade que o próprio judiciário protagoniza”, afirma o líder da categoria.

A previsão orçamentária do TJE-PA para 2011 soma a quantia de R$ 51.780.458,76. Comparado a 2010, quando o orçamento foi de R$ 41.992.760,42, são quase R$ 10 milhões a mais. O suficiente para arcar com as novas contratações (dados disponíveis em http://www.tjepa.jus.br/portalDaTransparencia/tjpa/).

O edital (nº002/2009) do último concurso para o TJE antevia a provisão de aproximadamente 270 vagas nas mais diversas áreas. Para oficiais, as vagas foram ofertadas somente em caráter de cadastro de reserva. De 288 candidatos a oficiais classificados no concurso, apenas 7 foram nomeados para comarcas do interior. Em contrapartida, no início de 2011, cerca de 60 oficiais deixaram livres seus cargos, em Belém, por motivos de exonerações, aposentadorias ou falecimentos e não foram substituídos.

Em todo o Estado, há 400 oficiais de justiça em atuação, quando, segundo o presidente da Assojupa, o ideal seria, pelo menos, o dobro, ou seja, 800 oficiais. “Em caráter emergencial, de maneira alternativa, seriam necessários 60 oficiais, sendo 30 para a capital e 30 para o interior do Estado, para cobrir o déficit e diminuir a sobrecarga desses profissionais”, ressalta Edvaldo Lima.

De acordo com o oficial, a falta de servidores para a categoria tem gerado diversos transtornos e prejuízos. Dentre os transtornos, a maioria para o próprio servidor, está a sobrecarga de trabalho, que tem provocado problemas psicológicos como depressão e baixa-estima, além de danos físicos e de saúde por conta do cansaço e esforço excessivo. “São inúmeros os casos, por exemplo, de mandatos empreendidos contra oficiais de justiça que não deram conta de executar todas as ordens judiciais pelas quais tenham ficado responsáveis”, relata Edvaldo. Já os prejuízos se refletem contra o próprio Tribunal, que prefere pagar hora extra aos oficiais em atividade e remarcar audiências do que contratar novos profissionais. O edital 002/2009 tem validade até junho de 2011.



quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O velho e o novo tempo

Século XXI, primeiro século do terceiro milênio. O ano é 2011. Há quem tenha vivido um reveillon moderno: na praia, nas montanhas, nas grandes cidades cosmopolitas... Como se eu tivesse voltado no tempo uns 200 anos, meu reveillon foi bem diferente. Nunca tinha imaginado coisa igual em plena pós-modernidade!

Eu que já estava preparada para a mesmice da passagem de ano em Salinópolis - PA (passo o reveillon lá desde que me entendo por gente, salvo raras exceções), onde a virada normamelte se dá em congestionamentos a caminho da praia, de repentemente, tive a oportunidade de ir para Santarém Novo - PA.

Município paraense entocado mata adentro, a 180 Km da capital Belém, saindo pela rodovia BR-316 até o trevo da Vila Nova, seguindo pela rodovia de Salinas (PA-324) até o trevo da Vila de Pau-Amarelo (PA-124). Santarém Novo tem como principal fonte de renda a extração do caranguejo. No sentido Sanlinas-Belém, está a 37 Km da saída do litoral.

A cidadela tem uma rua principal, quatro ou cinco ruas transversais, um barracão para eventos culturais, a praça da Igreja Matriz e um trapiche que dá acesso ao rio Maracanã, rio, aliás, que deu origem ao povoado em meados do século XVIII.

Dezembro, no município, é mês de festejar São Benedito, padroeiro dos humildes. A festa é tradicional e ocorre há 100 anos, pretes a ser tombada como patrimônio imaterial da cultura paraense conforme avaliação em andamento feita pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

Além de cerimônias religiosas, procissões, ladainhas e outras honrarias ao santo, a festividade de São Benedito, como toda manifestação que mistura fé e cultura, tem um lado profano: uma quermesse organizada pela Irmandade do Carimbó de São Benedito, que dura os dez dias da quadra festiva, do dia 21 de dezembro ao último dia do ano.

São dez noites de festa, animadas pelo som do carimbó, ritmo genuinamente paraense, marcado pela batida de tambores, que mescla elementos indígenas e africanos e hoje integra o folclore nacional, estando também na expectativa pelo tombamento como patrimônio cultural brasileiro.

Na festa de São Benedito em Santarém Novo, que ocorre, é claro, no barracão da cidade, só dança o carimbó no salão homens vestidos de paletó e gravata e mulheres trajando a saia longa e rodada que embeleza o rebolado. Blusas decotadas, que mostrem os braços, barriga ou costa são proibidas, como manda a tradição. É difícil ver cena como essa na capital, onde o carimbó é tocado, em alguns lugares, sem nenhuma referência aos motivos culturais que o rodeiam.

Na noite da virada, o ritmo contagiante vem por meio dos tambores do grupo "Os quentes da madrugada". A partir das duas da manhã até o sol raiar, no primeiro dia do novo ano, os casais arrastam pé no salão. O combustível é a gengibirra, bebida a base de gengibre, cravo da índia e cachaça, distribuída gratuitamente para quem precisa de um gás a mais. A cada canção, os casais entram no salão em fila e vão dançando em círculos ao redor do salão e ao redor de si mesmos, em translação e rotação, como o planeta Terra em torno do sol.

Sei dançar o carimbó, mas aprendi na capital. O carimbó tradicional de Santarém Novo me custou uma dor nas pernas diferente, como tudo ali me causou estranhamento... um estranhamento bom, aquele que é provocado pelas novidades. Uma novidade pra mim que ao mesmo tempo é centenária para o povo do município!

Passei o reveillon de roupa emprestada, saia rodada atravessada de geração a geração pelas santarenas, e não de roupa nova como manda a superstição. Subistitui os sete pulinhos sobre as ondas por reboladas durante toda a madrugada. E, ao invés do champagne, brindei o ano novo com gengibirra! Que venha, então, 2011, e que seja tão repleto de novas experiências como foi essa virada!!!

E você, como foi seu reveillon?




Feliz ano novo a todos!!