quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Jornalista Bombril

É engraçado notar como o perfil dos jovens que, hoje, ingressam nos cursos de jornalismo mudou com o decorrer do tempo. A minha imagem mental do estudante de comunicação, formada por garotos de all star azul, cabelo despenteado e barba por fazer; e por garotas usando sandálias de tiras, vestidos coloridos e bijuterias artesanais foi substituída por figuras de blazeres e terninhos, óculos de armação preta e sapatos sociais de couro lustroso.

Longe de mim querer julgar as pessoas pela aparência, mas, vamos combinar, foi-se o tempo em que os estudantes de jornalismo eram os que encabeçavam os protestos universitários, se manifestavam publicamente contra injustiças sociais e se aventuravam em projetos que exigiam apenas “uma câmera na mão e uma idéia na cabeça”.

O jornalista da Geração Coca-cola está muito mais interessado no glamour oferecido pela chance de aparecer na telinha, de anunciar a previsão do tempo no horário nobre, de entrevistar artistas e personalidades de renome, freqüentar os lugares mais badalados... Enfim, se aproveitar da fama, do status e do poder simbólico garantidos pela profissão.

Não querendo generalizar, pois toda a regra tem sua exceção, mas é desestimulante, por exemplo, ver trajetórias de repórteres que começaram com muita seriedade e consciência política, noticiando fatos como a queda do Muro de Berlim, no século passado, terminar quase com um nariz de palhaço no auditório do Big Brother Brasil, apesar de seus cabelos brancos, no século XXI.

A verdade é que a mídia da atualidade passou a fazer de tudo e de todos um autêntico espetáculo. E para atuar neste novo campo, os profissionais da nova geração do jornalismo brasileiro têm que adaptar suas personalidades para mil e uma utilidades.

Por que não ensinar a pescar?

Sou leitora da revista IMPRENSA e fiquei impressionada com a trajetória profissional do jornalista Daniel Pizza, entrevistado do mês na edição de jan/fev de 2008. É inspirador saber que existem jovens e bons jornalistas que ainda conseguem alcançar destaque e reconhecimento profissional em um mercado tão restrito e competitivo como o brasileiro, principalmente no que se refere ao jornalismo cultural.

Bom seria se histórias de vida como a de Daniel Pizza não fossem raras exceções, pois, é sabido que, hoje em dia, não basta apenas o talento e a habilidade para que o jornalista consiga um lugar ao sol no centro de produção cultural brasileiro. Infelizmente, as oportunidades não são iguais para todos e, mais do que competência,um jornalista precisa de sorte e bons contatos para consolidar uma carreira.

O fato é que, em nosso país, temos a cultura de valorizar muito mais o material do que o intelectual. Existem muitos bons profissionais no mercado, de excelente formação, que não conseguem se sobressair dentre os que possuem o famoso QI (Quem o Indique) no âmbito das empresas jornalísticas, em especial em redações e conglomerados de informação tão tradicionais e familiares, que predominam em cidades ainda tão provincianas como a nossa capital paraense.

O resultado disso é a (re)produção de um jornalismo que fica no “lugar-comum” da abordagem cotidiana, que não inova, não evolui e não reage aos padrões ditados pela sociedade do consumo. Talvez esteja aí a motivação para a afirmação de Daniel Pizza de que “as revistas culturais brasileiras, em geral, estão todas muito ruins” e de que “jornalismo sofisticado não dá certo no Brasil”.

Para além do negativismo diante da situação, é preciso analisar a questão de forma realista. Se mais do que vender, o interesse das editoras de revistas culturais no Brasil, por exemplo, fosse oferecer jornalismo de qualidade, verdadeiramente informativo e educativo, a produção cultural no país não seria tão simplista, simplória ou banal.

O nível cultural dos leitores brasileiros não aumenta, porque não se investe no nível cultural dos jornalistas e produtores de informação. Faço minhas as palavras de Pizza ao dizer que “é preciso saber o que o leitor quer, mas não dar a ele só isso. Tem coisas que ele nem sabe que quer”. Se o consumidor só tem a opção de cultura de massa para consumo, como poderá imaginar o quão agradável é a cultura erudita? O grande erro dos conglomerados jornalísticos é oferecer resistência à diversidade, tanto no que se refere a conteúdo quanto no que se trata de quadro de pessoal.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

"O ócio criativo"

Sim. Sou mais uma jornalista com muitas coisas a dizer que se aproveita deste espaço de livre expressão para dar corpo a nuances de uma mente inquieta. Jovem, recém-formada, desempregada, cheia de sonhos e expectativas, são mais alguns dos adjetivos que compõem o estereótipo dos blogueiros de plantão, grupo do qual decido fazer parte a partir desse exato instante.

A verdade é que essa é uma fase crucial na vida das pessoas. O momento em que nos deparamos, pela primeira vez, com o resto de nossas vidas. Nós já aprendemos a falar, já descobrimos que colocando um pé a frente do outro podemos nos locomover, já percebemos que fazemos parte de um universo muito maior do que aquele formado pelas quatro paredes de nosso refúgio doméstico, já freqüentamos a escola, escolhemos uma profissão... e, agora, precisamos produzir para consumir.

Alguns sortudos se sentem à vontade nessas circunstâncias. Conseguem um bom salário em troca de atividades como pressionar botões, trocar parafusos ou quebrar pedras; só enxergam aquilo para o qual foram treinados para ver e levam uma vida comum, com rotinas socialmente aceitáveis e recomendáveis, alheios a tudo que possa subverter a ordem de seu confortável cotidiano, desde que, no fim de um mês de muito trabalho, consigam manter gastos com roupas de marca, carros do ano, TVs de plasma e outros artigos de última geração.

Outros, fadados a noites de insônia e repentes esquizofrênicos de ansiedade, motivados muito mais pela falta de oportunidades do que por uma pré-disposição ao questionamento, percebem que algo está errado e se recusam a se render à mediocridade da vida pós-moderna. Afinal, como diria o sociólogo italiano Domenico de Masi, se a necessidade é a mãe das invenções, o ócio é, então, o pai das idéias.

Para além de toda essa filosofia de boteco, o que quero dizer é que aproveitarei esse espaço e o meu longo tempo livre para dar vazão a todo tipo de pensamento que me leve a visualizar a realidade com cores diferentes daquelas com que vem camuflada. Ao invés de me entregar à preguiça, ao sedentarismo e à alienação, enquanto minha vida não segue o ciclo natural do nascer, crescer, estudar, arrumar emprego, etc., etc., vou exercitar minha habilidade racional para assimilar de tudo e de todos a minha volta muito mais do que o óbvio. O meu ócio será criativo.