segunda-feira, 1 de outubro de 2012

E os meus pensamentos são todos sensações

Há tempos eu não sentia vontade de escrever aqui no blog. Tinha algumas ideias, mas nada me trazia ânimo para sentar em frente ao computador e escrever. Passo, ultimamente, tantas horas em frente à tela que, quando tenho a oportunidade de estar longe dela, agarro com unhas e dentes, embora seja cada vez mais inevitável integrar-se.

Essa semana, senti vontade de escrever porque voltei a entrar em contato com o que realmente me motiva a escrever: a literatura. Sim, eu amo a literatura. E falo isso sem medo ou vergonha, sem restrições. Amo ler, amo escrever, amo traduzir com palavras minhas emoções. A literatura me faz sonhar, me faz criar um mundo paralelo, ainda que, para alguns, um mundo antiquado, fora de moda.

Começando em um novo trabalho, dia desses, um vizinho de mesa me pergunta: "Qual é mesmo a tua formação?". Com um tanto de orgulho na voz, respondo: "Jornalismo, com especialização em Língua Portuguesa e mestrado em Estudos Literários". E ele solta a pérola: "Caraca, tu deves ser muito chata!". Julgada que fui, achei graça, e perguntei a mim mesma: "Como pode alguém não gostar de literatura? A sorte é que o mundo é feito de pessoas diferentes!".

As palavras têm força e poder. Alguém que sabe manipular palavras e criar um texto para puro deleite e contemplação é um verdadeiro artista. Eu estou longe de ter esse dom, mas sei apreciá-lo. Um escritor é um escultor de sentimentos, um afagador de almas. É alguém que vê além do que seus olhos podem ver e supera o concreto, é todo sensações.

Na minha humilde opinião de leitora, acho incrível o que a leitura é capaz de fazer com as pessoas e com as coisas: a literatura faz nascer, faz mudar, faz crescer... Alguns minutos em um ambiente totalmente propício para esse entendimento, a Feira Pan-Amazônica do Livro 2012, foram suficientes para ter certeza de que a literatura não me faz chata, mas sim, me faz maior, do tamanho do que minha imaginação pode vislumbrar.

Em outros posts, já critiquei as proporções que este evento tomou em minha cidade, mas, ainda assim, é inevitável não reconhecê-lo como uma grande celebração à literatura, há de saber aproveitar seus bons momentos, separar o joio do trigo e saber colher os frutos: as imagens mentais e as sentimentalidades que nos permitirem o verso e a prosa.

Quem escreve e quem lê pode ser quem ou o que quiser, ou, quem sabe, qualquer coisa de intermédio, como diria Sá-Carneiro, o amigo dileto do homenageado desta edição da Feira. Muitos em um, um em vários, uma Pessoa em Fernando, Fernando em várias pessoas: Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis... mas do que seres de papel, seres de sentimento, seres cheios de alma, ainda que alma feita de letras e palavras.



Pessoa - e todos os seus "eus" - queria ser poeta como as flores florescem e têm cor, permitindo-se dizer tautologias, porque, ainda que cheio de pensamentos, a poesia o livrava do peso de pensar, sabendo-se por isso, não do tamanho de sua altura, mas do tamanho do que sua alma o permitia ver e, mais do que ver, enxergar.

Fernando Pessoa sabia-se poeta, se sabia sábio e, ao mesmo tempo, sabia que precisava saber mais:

"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo"

Olhar o mundo com as lentes do poeta é entender que:

"Tudo vale a pena se a alma não é pequena"

É entender com naturalidade, a complexidade do mundo, querendo-se, por isso, mas simples e:

"Leve, leve, muito leve, um vento muito leve que passa, E vai-se sempre muito leve..."

Chata para alguns, essencial para outros, a literatura é vento, mas também é ar. E penso nela não como quem, simplesmente, sente a brisa, mas como quem respira.

"Olá, Guardador de Rebanhos,
Aí, à beira da estrada,
Que diz o vento que passa?

Que é vento, e que passa,
E que já passou antes,
E que passará depois
E a ti, o que te diz?

Muita coisa mais do que isso
Fala-me de muitas outras coisas
De memórias e saudades
E de coisas que nunca foram..."

segunda-feira, 11 de junho de 2012

No teu olhar, eu leio

Eu me apaixonei por Amaro no passeio público. Foram cinco anos de romance. Ele vinha do lado oposto ao meu e trocávamos olhares. Belos olhos castanhos claros ele tinha. Combinavam com os meus, cor de mel. Nunca trocamos palavras, apenas olhares. Assim nos conhecemos e nos amamos.

Amaro é o nome que escolhi para ele, porque tinha a ver com seus olhos, Sorríamos, piscávamos, abaixávamos o olhar timidamente e, assim, dizíamos tudo: Eu te vejo e eu te amo!

Era possível perceber quando o olhar estava triste, quando estava radiante, quando havia dúvida... Havia dias que ele me olhava com ternura, em outros, olhava-me com desespero. Houve momentos em que me olhou com raiva, um furor misturado com desejo e paixão. Eu retribuia o olhar!

Ah, aqueles olhos, por alguns segundos em cima dos meus... Apenas o tempo de cruzarmos um o caminho do outro, deixando escapar também nossos cheiros e o rumor de nossos passos.

Dávamos voltas na praça. Todos os dias no mesmo horário. A luz do fim de tarde deixava os olhos dele ainda mais bonitos. Caminhávamos até escurecer. Não houve momento em que nossos olhos se tocassem que meu coração não batesse forte ao ponto de quase sair pela boca. Era um passamento, um frio na barriga, um comichão na pele.

Ele olhava minhas mãos envoltas em luvas, segurando o cabo da sombrinha. Ele olhava a barra da minha saia acabada em renda e que farfalhava na calçada deixando a mostra a pontinha dos delicados sapatos. Outras vezes, ele olhava a cintura apertada no vestido e o peito arfando no espartilho. Oh, Amaro...

Aquele olhar, ah, aqueles olhos, eu os via mesmo de olhos fechados. Eu voltava para casa com o suave toque daquele olhar e sonhava com ele. Nós nos olhávamos!

Mas não apenas a nós mesmos. Também olhávamos o universo ao nosso redor. Vimos mudar as estações, as folhas caírem das árvores, as flores nascerem e murcharem... vimos soprar o vento do progresso. Vimos a paisagem se tornar outra: as ruas foram ficando mais movimentadas, de carros e de gentes; as casas e sobrados foram dando lugar aos pontos de comércio e cortiços... O passeio público não era mais o mesmo. Até que veio a notícia: uma rodovia, uma grande rodovia passaria por aquele local.

Lembro do dia em que trocamos nosso último olhar! Ele veio cabisbaixo... Meus olhos lagrimavam. Diminuímos o passo, quase paramos. Ai, não fosse o quase... Ele me olhou mais demoradamente, um doce olhar. Passamos um pelo outro e viramos nossas cabeças para olharmos por mais alguns segundos.

Hoje, meus olhos não são mais os mesmos. Eles viram muitas coisas e também fecharam-se para outras. Os meus olhos estão envoltos em rugas e pele envelhecida... Ainda vejo o olhar de Amaro quando os fecho para sonhar. Vou-me dessa vida com a certeza de que vi e vivi um verdadeiro amor: coisa rara nesse novo mundo... um mundo táctil, de concreto.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Quem inventou o amor?

Hoje eu gostaria de refletir sobre o amor, começando por dizer que amor que é amor não se importa com coisas pequenas, as coisas fúteis da vida, sabe, aquelas passageiras?!

O amor que é amor permanece acima de tudo, acima dos quilos a mais, acima das incompatibilidades de gostos, valores e personalidades.

O amor é cheio de beleza, o que eu amo é belo, independentemente da cor, da forma, dos adereços. Ele também me deixa ser o que eu quiser, como eu quiser, e me ama assim mesmo.

Amor que é amor é flexível, para que caiba nele ainda mais amor. É paciente, é bondoso, é compassívo... Qualquer semelhança com Coríntios 13 não é mera coincidência: é amor! Existe desde que o mundo é mundo e é bíblico.

Amor que é amor é aquele que vem de duas partes, é dois em um, um mais um igual a uma dupla de um: dois corpos, dois corações, mas um só sentimento. É a dor de um que dói no outro, na mesma medida... Não tem fórmula, nem lógica!

É fazer tudo, mas TUDO, junto, sem se enjoar da sua companhia. É se amar tanto ao ponto de querer amar o tempo todo e, nas horas vagas, amar mais.

O amor que é amor é realmente grande, ENORME, do tamanho de 1001 galáxias e mais o infinito, para que nele haja bastante espaço para a compreensão.

O amor está na pele, no brilho do olhar, na textura do cabelo e na extensão do sorriso de quem ama e se sente amado, de quem é verdadeiramente amado, de quem tem todo o amor do mundo. É um eterno aprendizado.

Amor que é amor não deixa lacunas, pelo contrário, completa, preenche os vazios, ele não cobra, não deixa sofrer, não deixa só, ele se preocupa igual e busca a solução em conjunto.

O amor não é mesquinho, é generoso, por isso, ele não se sacrifica, ele se doa, se dá, sem esperar nada em troca. Ah, mas ele também não se planta, viu?! Brota, assim mesmo, do nada - até entre duas pedras - e vive. Mas é preciso regar para crescer, florir e gerar frutos.

Ele é mesmo piegas, meloso, cheio de açúcar, previsível e até lugar comum, mas também sabe surpreender e deixar zonzo de tanto amor. Embora seja, ou pelo menos deveria ser, mais emocional do que físico, mas sobre isso Rita Lee já refletiu muito bem.

E as comparações poderiam continuar ad infinitum, mas amor que é amor não se reduz a metáforas. Ele fala por si mesmo. Percebeu? Ele FALA, não guarda segredos, desabafa, discute relação!

O amor conversa, não manda recados, mas, às vezes, é inevitável até para o amor, mas só para o amor que é amor, porque esse é complexo, é profundo, é contraditório, embora constante... nunca foi fácil, em nenhuma geração... Ou, talvez, seja tão simples, mas tão SIMPLES, que acaba se complicando de tanta simplicidade!

Amor que é amor aceita, perdoa, releva... é amor até debaixo d'água, no meio de um incêndio, sob tempestades e tufões. O amor prevalece SEMPRE!

Mas isso não é uma declaração de amor, embora eu ame e AME MUITO! Isso é só uma forma de eu perceber que eu ainda não sei amar e de como eu gostaria de ser amada dessa forma...

Mas o amor não tem forma, lembra?

E voltamos, de novo, ao princípio...

Quem inventou? ME EXPLICA, POR FAVOR!!!!



Quer saber? Não tem explicação!! É O AMOR!

sábado, 24 de março de 2012

Não, Tempo, não zombarás de minhas mudanças!

O tempo passa, a gente cresce e eis que, de repente, a nossa vida já não é mais a mesma de há alguns anos. Foi assim: de repente, dormi menina, acordei mulher. Sim! Mulher. Apesar de meu rosto e meu tamanho enganarem.

E eu que nunca soube negligenciar nada, tomo para mim o escudo e a espada, enfrentando o que tiver que enfrentar.

Acho que esse é o processo natural da existência humana na civilização: ser criança, crescer, ser jovem, amadurecer, ser adulto, batalhar e vencer, embora nem todos consigam...

Digamos que cumpro bem meu papel. Sigo a linha do tempo, sempre constante, na normalidade do cotidiano presente.

Talvez eu seja uma dessas heroínas: filha, mãe, amiga, irmã, mulher, menina, amante... Talvez minha existência não seja tão medíocre quanto, às vezes, me parece... Talvez eu deva sentir um acréscimo de estima por mim mesma e mereça congratulações por um 8 de março que já vai longe...

Whatever.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Queira ou não queira terminou o Carnaval...

"O Marajó é uma coisa fantástica, só você vendo… E depois de ver, é capaz de não acreditar. Você vê, sente, vive o Marajó; Contar é difícil. Adianta?..." 

Carlos Drumond de Andrade escreveu essa crônica em 1981 sem nunca ter ido ao Marajó. Só de ouvir falar! Esteve lá através de relatos por correspondência com uma certa moça paraense e conseguiu recriar a Ilha no seu imaginário.

Imagina, então, se ele tivesse presenciado a cena: o mar misturando-se aos rios, os furos de água cristalina, a revoada dos guarás, o galope dos vaqueiros, os búfalos convivendo pacificamente com os homens, a travessia dos pôpôpôs no lusco fusco do fim de tarde... Cenário de novela. Aí, sim, tenho certeza que não saberia se olhava, bebia ou mergulhava na paisagem!

O Marajó é puro encantamento, uma viagem no tempo, um transbordamento de memórias e emoções. A Ilha transpira histórias da época do descobrimento, das grandes navegações, da colonização e missões.

Do tempo da crônica de Drumond pra cá, Salvaterra cresceu absurdamente. É a cidade mais desenvolvida da Ilha, onde prosperam o comércio e a modernidade. Soure, não. Permanece em ritmo pacato de cidade interiorana, de praias recém descobertas, dos grandes casarões e dos sobrados coloniais que dividem espaço com tendências mais modernistas ao estilo raio-que-o-partaAmbas as cidades foram planejadas como no modelo novaiorquino, com as ruas numeradas, cortadas por travessas sem nome, só números. 

Os cinco dias do Carnaval são pouco para conhecer tudo que as cidades e a Ilha têm a oferecer. É preciso optar entre os blocos de rua em que os mascarados dividem a alegria com as crianças, e, as fazendas que abrigam os jacarés e escondem o suspiro da cobra grande.

Depois de um naufrágio de um navio - que não se sabe se indiano ou francês - no no rio que dá acesso a Soure, impedindo embarcações de grande porte de atracarem diretamente lá, Salvaterra passou à frente em termos de desenvolvimento, mas os resquícios de história permanecem por toda parte: na lembrança dos moradores mais antigos, nas ruínas de Joanes... Não fosse a crônica de Drumond eu poderia jurar que o nome "Joanes" é por causa das joaninhas que, lá, encontram-se aos montes, símbolo de boa sorte, fortuna, fartura e amor verdadeiro.

Os turistas chegam a todo instante, de todos os lugares do Brasil e do mundo, para conhecer a Amazônia na sua forma nativa, o povo marajoara, nem índio, nem negro, nem branco: mestiço, genuinamente caboclo. Enfim, não são raros os casos de gringos que se apaixonam e acabam ficando por lá.

Foi o que aconteceu com o britânico border collie, que adotou a Praia Grande, de Salvaterra. Trazido por um inglês para uma temporada na Ilha, não quis mais saber de outra vida. Primeiramente foi levado a passeio ao ponto mais alto da praia. Depois, começou a ir para o mesmo ponto toda manhã por conta própria. O dono ia buscá-lo no fim do dia e ele voltava relutante até que, certo dia, foi parar lá com um pedaço de sua casinha de madeira e, por opção, fincou ali o seu lar.

Carinhosamente apelidado de turista, o cachorro recebe os visitantes, corre livremente pela areia, banha-se na imensidão do mar-rio e é capaz de ficar horas e horas olhando para o horizonte, ao som das ondas, com o ar sábio de quem escolheu com o coração o lugar para viver. 

O Marajó tem dessas coisas, tem seus mistérios, seus encantos... Para usar as palavras de Drumond: "Eta arquipélago danado, deslumbrando, perturbando a vista miudinha da gente!". E olha que eu vi! 

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Pena que o Carnaval acabou, mas ano que vem tem mais!
  

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O baú das lembranças

Às vezes é inevitável ir lá no velho baú de prata onde ficam as lembranças. Lembro da época em que a atual Av. Rômulo Maiorana sequer era asfaltada, só um monte de piçarra e barro batido. O fim da 25 de Setembro, conhecida pelas curvas em S ao redor dos grandes canteiros que serviam às brincadeiras infantis nos fins de tarde.

Não passavam ônibus por lá, mal passava gente: era só os fundos do Bosque, hoje, Jardim Botânico Rodrigues Alves. O tempo passou e foram muitas as mudanças. A rua mudou, inclusive, de nome para homenagear o fundador de um dos principais jornais locais de Belém, que tem sua redação e ilha de impressão instaladas em um de seus quarteirões. 

Atualmente, carros e ônibus disputam espaço por lá. Várias pessoas também disputam a vez nos aparelhos da academia ao ar livre ou, simplesmente, o calçadão do Bosque (para mim sempre será Bosque), que serve a caminhantes e a quem está a caminho. Lá, as crianças vão tomar o sol da manhã e os idosos vão fazer seus exercícios.

Até mesmo alguns dos animais que tem no Bosque um refúgio vêm, vez ou outra, olhar o movimento da Avenida. "Olha a fruta, freguesa!". E, rápido, os macaquinhos aparecem para ganhar o seu quinhão. Entre um passo e outro, é só olhar para cima: lá está uma preguiça, no alto de uma das árvores centenárias. Com o ouvido e olhar atentos, através da grade mesmo, percebe-se também cotias e tatus se esgueirando na mata.

Belém tem 396 anos. Já o Bosque Rodrigues Alves foi fundado em 1883 no bairro do Marco, assim chamado pelo fato de ter sido considerado a primeira légua de crescimento de Belém, delimitando a área da cidade, até então, o ponto mais distante de urbanização já atingido, se considerado o atual centro histórico, onde nasceu a morena do Grão Pará. Hoje, a Região Metropolitana vai bem mais além, envolvendo os municípios de Ananindeua, Marituba, Santa Bárbara e Benevides.

Eu cresci junto com esse bairro. Aliás, o Bosque me viu crescer. Passeios de domingo, Dia das Crianças, excursão da escola... No presente, sou eu que levo minha sobrinha para ver lá o peixe-boi, um único exemplar da espécie, naquele pedacinho de Amazônia bem no coração da Metrópole, um refúgio de paz em meio a uma das ruas mais movimentas da cidade, a Av. Almirante Barroso, paralela à Av. Rômulo Maiorana.

Apesar de já ter perdido seus dias de glória, o Bosque permanece sendo bastante visitado e recebe as crianças que ainda não foram totalmente arrebatadas pelos DVDs, vídeo games e jogos virtuais. Quero um dia poder levar meus filhos até lá e contar histórias de encantados: o curupira, a sereia Iara, o boto..., no Bosque, têm até monumentos.

Lembro de um episódio da minha infância em que, em um belo dia, foi parar em minha casa um jabuti. Era fêmea e a batizamos de Tieta. Ela só ficava no quintal, no seu ritmo lento de vida. Minha irmã, ao tentar segurá-la, assustou-se e a deixou cair, quando quebrou um pedacinho do seu casco. Alguns dias depois, Tieta não estava mais no quintal. Meu pai disse tê-la levado para morar no Bosque, talvez, uma desculpa para não dizer que, na verdade, a levou para a panela.

Durante muitos dos meus anos de criança, fui ao Bosque para visitar Tieta. Ainda hoje, quando vou por lá, é inevitável procurar com o olhar, nos lagos de água encardida, um jabuti de casco lascado, é inevitável não abrir o baú de prata onde ficam as lembranças...

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Atrasado, mais a tempo de marcar o mês de aniversário de Belém (12 de janeiro).

:)