quinta-feira, 28 de abril de 2011

Dádiva

Quando secar o úmido do banho recém-tomado
Quando aumentar a espessura do tempo que se move
Quando o relógio soar a hora do vazio da tarde quente
Vou perfumar a pele, soltar os cabelos ralos
Vestir-me a seu gosto e pintar o rosto em brasa
Esperar pela tua chegada, sempre como um tufão
A desordenar as coisas inertes
Preenchendo as lacunas da convenção e da hiprocrisia
Com tua verdade tão autêntica e tão nobre
Lépida, me jogo em teus braços
Me perco em afagos
Me desfaço em pedaços, de vários eu aprisionados.

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Em dias de romatismo, vá lá um poeminha para alegrar o coração e despertar paixões....
:)

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Tempos mais que modernos

Há algum tempo tenho me dedicado a pensar e analisar o papel que a tecnologia desempenha na sua relação com a linguagem. Em visita a Belém, no dia 31 de março de 2011, Lúcia Santaella, uma das semioticistas mais conhecidas e bem pagas nos terrenos nacionais e internacionais da comunicação, letras e artes, me ajudou nessa empreitada falando sobre os "35 anos de convergências tecnológicas", desde o surgimento dos primeiros maquinários provenientes das sucessivas revoluções industriais até o contexto atual, em que a tecnologia digital, do celular, ao cartão de crédito, do notebook ao ipad, passam a regular todo tipo de relação humana ou social que se desenvolve sob a égide da "pós-moderndiade".

Em 1936 Charlie Chaplin já mostrava o desafio que é sobreviver em meio a um mundo moderno e industrializado, quando as máquinas tomam o lugar dos homens e tornam-se suas próprias mãos, mentes e laços. Tempos Modernos é o último filme mudo de Chaplin, que focaliza a vida urbana nos Estados Unidos nos anos 30, imediatamente após a crise de 1929, quando a depressão atingiu toda sociedade norte-americana, levando grande parte da população ao desemprego e à fome. É uma crítica à "modernidade" e ao capitalismo representado pelo modelo de industrialização, onde o operário é engolido pelo poder do capital e perseguido por suas idéias "subversivas".

A cena inicial da película mostra Carlitos, funcionário de uma grande fábrica, entrando em colapso pelo excesso de trabalho e pelo efeito provocado pela produção em série e em larga escala, que padroniza as ações humanas e deixam o cidadão no limiar da loucura e da escravidão. socialista e é levado à prisão, onde aprende a apreciar os prazeres do ócio, chegando ao ponto de sentir-se mais livre ali, atrás das grades, do que se tivesse que trabalhar em fábricas para sobreviver.

Ao ser libertado, de volta à realidade cruel da sociedade industrial caracterizada pela produção com base no sistema de linha de montagem e especialização do trabalho, Carlitos assume a identidade do vagabundo, o flaneur, que vaga a esmo pela cidade, com fome, sem destino, em busca de emprego ou aventuras, olhando as vitrines dos sonhos, dos bens e dos desejos que não pode realizar, ter ou saciar. Ao se apaixonar por uma pobre órfã, o vagabundo pensa em "voltar aos eixos", trabalhar e construir a vida ideal da família burguesa, pautada pelo conforto, a diversão e a alienação de quem tem pão, circo e não se importa com os problemas sociais.

Mas, no mundo moderno, não há lugar para os desajustados...


Se a primeira geração da revolução industrial já sofria tanto com os efeitos e impactos tecnológicos provocados pelas máquinas capazes de produzir mercadorias..., que dirá as gerações mais recentes que advém da era em que as máquinas são capazes de produzir linguagem, traduzir códigos alfabéticos e permitir a comunicação em longas distâncias, quebrando as barreiras do espaço-tempo e criando os domínios da virtualidade!

Nos tempos contemporâneos, as tecnologias digitais moldam uma linguagem que nasce e é própria das redes virtuais...

É pensando nisso que Santaella, em seu livro "Linguagens Líquidas na Era da Mobilidade" (2007), identifica cinco gerações que marcam a cronologia das tecnologias da linguagem e da comunicação: 1) tecnologias do reprodutível, caracterizadas pelos meios eletromecânicos de comunicação em massa, a exemplo do jornal, da fotografia e do cinema; 2) tecnologias da difusão, onde figuram os meios eletroeletrônicos de comunicação de massa, como o rádio e a televisão; 3) tecnologias do disponível, gadgets que fazem surgir a "cultura das mídias", regulada pelos meios digitais de comunicação de massa, responsáveis por hibridizar diversos gêneros e linguagens; 4) tecnologias do acesso, geradas pelo surgimento das redes e pelos avanços da teleinformática, onde estão inseridos o computador, a internet e as mais diversas interfaces gráficas; 5) e por fim, as tecnologias móveis, representadas pelos meios móveis com acesso à rede de informação e comunicação, como os notebooks, blackberries, iphones, ipads e afins.

O fato é que, à medida que a comunicação entre as pessoas e o acesso à internet e à informação, na contemporaneidade, favorecem a interferência e a intromissão do virtual na vida real, como ocorreu na modernidade com o personagem de Chaplin, modificam-se as relações de sociabilidade, o psiquismo, a cognição e, inclusive, a corporeidade dos seres humanos, que passam a associar à máquina a sua razão e maneira de existir, estar, pensar, ser e sentir no mundo. Do ponto de vista da linguagem, as tecnologias móveis e de acesso eternizam a escrita, o som e a imagem em uma proliferação infinita de signos, além de uma sintaxe essencialmente híbrida.

Quem não se ajustar a essas novas engrenagens, definitivamente, estará fora de época...




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