Eu não estou falando de impasses econômicos, da alta do dólar, da usura monetária que se contrapõe aos baixos ou até inexistentes salários. O sistema é bruto porque é desumano, porque faz de todos corruptos e corruptíveis, porque coloca um sorriso na cara, um "está tudo bem" na boca de um dirigente e faz a coisa parecer menos ruim.
Eu posso até ser pessimista, mas o sistema... o sistema é bruto, não conhece caridade, não se alimenta de piedade, não engole dor alheia. Ele estimula, incentiva, instiga a arte do “laissez-faire, laissez-passer" (Deixar fazer, deixar passar) e isso não apenas considerando a atuação das mãos liberais de nosso mercado, mas também a naturalidade com que nossos governantes incorporam o discurso de que "tudo passa, tudo passará"... principalmente considerando a situação de brasileiros sem casa, sem rumo, sem chão, que flutuam sobre águas, agora, rasas e correntezas ainda lamacentas, que atualmente fazem do sul do País o espetáculo midiático do momento. E o quarto poder é tão eficiente que consegue fazer com que eu, como cidadã brasileira, me sinta culpada e me corroa de compaixão pelos meus irmãos de pátria, me induzindo a tirar do próprio bolso os recursos necessários para reconstruir toda uma unidade federativa.
O sistema é bruto e é ausente, mas a mídia também brutaliza e aliena ao espetacularizar o sofrimento humano e colocar sobre as costas da própria audiência a responsabilidade em reverter a perda, a miséria e a degradação do Estado de Santa Catarina que muito têm a ver com fênomenos naturais, porém, mais ainda decorrem da incompetência do poder público em proporcionar moradia digna, em lugar ambiental e socialmente seguro para sua população.
O povo brasileiro sofre junto, mas não é menos vítima dessa enchente de oportunismo que acomete o País inteiro. Conseqüência de uma enxurrada histórica, que vem de todas as instâncias de poder.