sábado, 22 de novembro de 2008

O jornalismo real

  • Espaço experimental

Após uma caminhada de três quarteirões, sob o risco iminente da mais sofisticada violência urbana, no bairro da Cremação, encontrei a Redação do recém-nascido jornal:

- Olá! Meu nome é Jéssica. Eu vim fazer o teste para a edição.

- Ah! Oi Vanessa. Estava te esperando - diz a chefe de reportagem.

- Não, não. É Jéssica.

- Ah, sim! Claro. Você vai editar o caderno de economia para domingo.

- Ok. Mas é só um teste, certo?

- Bom, querida, é que... A nossa equipe está reduzida e uma de nossas editoras faltou hoje.

- Mas eu nunca editei economia!

- Ah, relaxa! Você consegue. Boa sorte aí, Vanessa. O jornal tem que circular. Dá para encarar, né?!

Antes que meu cérebro pudesse processar uma resposta, ela já tinha me virado as costas.

"Bye, bye Sexta-feira!"

(...)

  • Colegas, colegas. Interesses a parte

Depois daquele "toma que o filho é teu", fiquei ali, olhando para o computador... Como eu iria descascar aquele pepino? Reparei a correria em volta:

- Ééé... hum, ah, alguém? Por favor, alguém pode me ajudar? - indaguei. - Ei, você aí. Eu te conheço, já trabalhamos juntas. Podes me ajudar?

- Ah! Oiiii. Quanto tempo!! Agora não, amiga. Estou ocupada - disse a jornalista em ação.

- Eu te ajudo - ofereceu-se um rapaz.

- Nossa, obrigada! Estou perdida aqui. És jornalista?

- Não. Sou diagramador. Vou te dar umas dicas para adiantar o nosso trabalho. Não tô a fim de ficar aqui até 5h da manhã.

"Que gentil da sua parte!"

(...)

  • Estereótipos

Agora que tinha o queijo e a faca na mão, a coisa estava tomando corpo. A Redação estava agitada:

- Ta quente pra c*ralho aqui! - disse o editor de esporte.

- Não, não, meu querido. Eu diria que está assaz quente. - refutou o colunista de moda.

- Quente é aquela novata ali... - o fotógrafo me apontou pelas costas. - Gostosinha!

- Ah, ela! Ouvi dizer que conseguiu o cargo porque dorme com o diretor. - palpitou a estagiária.

"E eu ainda não tinha sido nem contratada."

(...)

  • Ética jornalística. Quê??? Direitos humanos. Quem???

23h. Metade do trabalho pronto. Até aquele momento, nem tinha reparado que meu estômago urrava de fome... Foi quando a tia dos serviços gerais me amostrou a copa, onde rolava os lanches. Descolei um pão dormido, atolado de manteiga e uma fatia esverdeada de presunto. O diretor aproveitou a galera reunida:

- Pessoal, alguém tem alguma sugestão para a manchete de sábado? - questionou.

Todos permaneceram calados. Estavam mastigando. O relógio marcou 00h30:

- E, então, meus editores? Quem sugere a manchete?

Remexeram-se inquietos em frete às telas de seus computadores. O relógio marcou 01h30 da madrugada:

- Vou perguntar pela última vez: alguém tem a porr* da manchete de sábado? - berrou o diretor.

- Um malandro passou a mão na xox*tinh* de uma criança na periferia da Jaderlândia - propôs o editor de polícia.

- Hum... Pode ser que sirva. Mas vou logo avisando: pro domingo eu vou querer um cadáver fresquinho, pingando sangue... de preferência, morto à punhaladas. Providenciem!

"Como assim? Não foi isso que aprendi na faculdade!"

(...)

  • Fim do expediente

Terminei a minha edição às 02h da matina. Entrei na sala do diretor e entreguei as provas das páginas:

- Espero que esteja tudo ok. Fui pega de surpresa. - justifiquei-me antecipadamente.

- Ah, claro. Vanessa, né?! Depois eu dou uma olhada. - disse jogando meu trabalho em uma pilha de papéis em cima da mesa.

- Na verdade, meu nome é Jéssica e trabalhei hoje em caráter de freela. Com quem posso tratar sobre o pagamento?

Ele soltou uma risadinha:

- A chefe de reportagem vai entrar em contato contigo.

No domingo, minha edição no caderno de economia daquele novo jornal saiu na íntegra. Não recebi créditos e nem dinheiro. Apenas mais algumas horas trabalhadas no currículo.

"Será que fazem alguma diferença?"

5 comentários:

Anônimo disse...

Chupa essa manga, Vanessa!

Adorei, ri muito! :)

Beijos eternos

Jhonny Russel disse...

Isso me lembra uma vez que um prestigiado cantor Parauara me chamou pra fazer uma trabalho com Bonecos num show dele.
Eu, na minha insistencia e falida mania de cre na boa vontade dos outros não tratei de valores antes de realizar o trabalho.

depois de tudo feito e pensando nauqekacerveja que me era merecida, perguntei: "Vamos ao pagamento?!"

- "Opa, eu te dei uma oportunidade de mostrar o teu trabalho" sacraliza o prestigiado cantor.

rsrsrrs

Bom, é preciso dizer eu o mandei tomar no cú ( coisa que eu acho que ele fez)

E ele me chamou de ingrato.


E Vanessa, a vida tem dessa coisas...

CrápulaMor disse...

Esse jornalismo real é fictício né? Não creio! Não é possível! hahahaha A recepção da chefe de reportagem foi hilária!

Obrigado pelo comentário no meu blog. Eu sou o Ruan. Legal falar contigo! Depois dou uma olhada com calma no teu blog, ainda estou viajando. T+

Repórter de Sandálias disse...

E o pior é que não tem nada de fictício não... é a mais dura realidade!!

;)

Carolete disse...

Adoreeeeeeeeei, Feiosa!!!

"Favoritei".

rsrsrsrsrs

Bjs.