- Espaço experimental
Após uma caminhada de três quarteirões, sob o risco iminente da mais sofisticada violência urbana, no bairro da Cremação, encontrei a Redação do recém-nascido jornal:
- Olá! Meu nome é Jéssica. Eu vim fazer o teste para a edição.
- Ah! Oi Vanessa. Estava te esperando - diz a chefe de reportagem.
- Não, não. É Jéssica.
- Ah, sim! Claro. Você vai editar o caderno de economia para domingo.
- Ok. Mas é só um teste, certo?
- Bom, querida, é que... A nossa equipe está reduzida e uma de nossas editoras faltou hoje.
- Mas eu nunca editei economia!
- Ah, relaxa! Você consegue. Boa sorte aí, Vanessa. O jornal tem que circular. Dá para encarar, né?!
Antes que meu cérebro pudesse processar uma resposta, ela já tinha me virado as costas.
"Bye, bye Sexta-feira!"
(...)
- Colegas, colegas. Interesses a parte
Depois daquele "toma que o filho é teu", fiquei ali, olhando para o computador... Como eu iria descascar aquele pepino? Reparei a correria em volta:
- Ééé... hum, ah, alguém? Por favor, alguém pode me ajudar? - indaguei. - Ei, você aí. Eu te conheço, já trabalhamos juntas. Podes me ajudar?
- Ah! Oiiii. Quanto tempo!! Agora não, amiga. Estou ocupada - disse a jornalista em ação.
- Eu te ajudo - ofereceu-se um rapaz.
- Nossa, obrigada! Estou perdida aqui. És jornalista?
- Não. Sou diagramador. Vou te dar umas dicas para adiantar o nosso trabalho. Não tô a fim de ficar aqui até 5h da manhã.
"Que gentil da sua parte!"
(...)
- Estereótipos
Agora que tinha o queijo e a faca na mão, a coisa estava tomando corpo. A Redação estava agitada:
- Ta quente pra c*ralho aqui! - disse o editor de esporte.
- Não, não, meu querido. Eu diria que está assaz quente. - refutou o colunista de moda.
- Quente é aquela novata ali... - o fotógrafo me apontou pelas costas. - Gostosinha!
- Ah, ela! Ouvi dizer que conseguiu o cargo porque dorme com o diretor. - palpitou a estagiária.
"E eu ainda não tinha sido nem contratada."
(...)
- Ética jornalística. Quê??? Direitos humanos. Quem???
23h. Metade do trabalho pronto. Até aquele momento, nem tinha reparado que meu estômago urrava de fome... Foi quando a tia dos serviços gerais me amostrou a copa, onde rolava os lanches. Descolei um pão dormido, atolado de manteiga e uma fatia esverdeada de presunto. O diretor aproveitou a galera reunida:
- Pessoal, alguém tem alguma sugestão para a manchete de sábado? - questionou.
Todos permaneceram calados. Estavam mastigando. O relógio marcou 00h30:
- E, então, meus editores? Quem sugere a manchete?
Remexeram-se inquietos em frete às telas de seus computadores. O relógio marcou 01h30 da madrugada:
- Vou perguntar pela última vez: alguém tem a porr* da manchete de sábado? - berrou o diretor.
- Um malandro passou a mão na xox*tinh* de uma criança na periferia da Jaderlândia - propôs o editor de polícia.
- Hum... Pode ser que sirva. Mas vou logo avisando: pro domingo eu vou querer um cadáver fresquinho, pingando sangue... de preferência, morto à punhaladas. Providenciem!
"Como assim? Não foi isso que aprendi na faculdade!"
(...)
- Fim do expediente
Terminei a minha edição às 02h da matina. Entrei na sala do diretor e entreguei as provas das páginas:
- Espero que esteja tudo ok. Fui pega de surpresa. - justifiquei-me antecipadamente.
- Ah, claro. Vanessa, né?! Depois eu dou uma olhada. - disse jogando meu trabalho em uma pilha de papéis em cima da mesa.
- Na verdade, meu nome é Jéssica e trabalhei hoje em caráter de freela. Com quem posso tratar sobre o pagamento?
Ele soltou uma risadinha:
- A chefe de reportagem vai entrar em contato contigo.
No domingo, minha edição no caderno de economia daquele novo jornal saiu na íntegra. Não recebi créditos e nem dinheiro. Apenas mais algumas horas trabalhadas no currículo.
"Será que fazem alguma diferença?"
5 comentários:
Chupa essa manga, Vanessa!
Adorei, ri muito! :)
Beijos eternos
Isso me lembra uma vez que um prestigiado cantor Parauara me chamou pra fazer uma trabalho com Bonecos num show dele.
Eu, na minha insistencia e falida mania de cre na boa vontade dos outros não tratei de valores antes de realizar o trabalho.
depois de tudo feito e pensando nauqekacerveja que me era merecida, perguntei: "Vamos ao pagamento?!"
- "Opa, eu te dei uma oportunidade de mostrar o teu trabalho" sacraliza o prestigiado cantor.
rsrsrrs
Bom, é preciso dizer eu o mandei tomar no cú ( coisa que eu acho que ele fez)
E ele me chamou de ingrato.
E Vanessa, a vida tem dessa coisas...
Esse jornalismo real é fictício né? Não creio! Não é possível! hahahaha A recepção da chefe de reportagem foi hilária!
Obrigado pelo comentário no meu blog. Eu sou o Ruan. Legal falar contigo! Depois dou uma olhada com calma no teu blog, ainda estou viajando. T+
E o pior é que não tem nada de fictício não... é a mais dura realidade!!
;)
Adoreeeeeeeeei, Feiosa!!!
"Favoritei".
rsrsrsrsrs
Bjs.
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