sábado, 30 de maio de 2009

Quão longe pode ir um pensamento?

Sábado, 15h30. Hora da cesta. "Onde estou?". Sala de aula. A Linguagem e o Texto Literário. O professor fala qualquer coisa sobre a ordem do discurso, de Foucault. Viagem pesada é coisa pouca! E olha que eu estava sóbria. Porre mesmo só de sono.

A tarde é cinza e, na janela, uma paisagem de outono: folhas secas no gramado. "Quando eu me tornei tão seca quanto aquelas folhas?".

"Rememoração", "vínculo inconsciente", "delírio"... Fragmentos de discurso, repentes de compreensão. Agora, toda a linguagem é produzida dentro de um delírio. "Seca de emoções, mas não de idéias".

Minha visão treme. Tento focalizar o professor, mas meu olhar vai além. Reparo o encardido na parede. Percebo a lousa vazia. Tempos em que o quadro é branco e não negro. "O que preciso saber?".

O assunto da aula dialoga com a filosofia de Aristóteles e de Platão. No entanto, quem me vem a mente é Sócrates e o "só sei que nada sei". "Quando foi que me tornei tão vazia quanto aquela lousa?".

Não, definitivamente, não é literatura para deleite. Tem algo mais. É rigor acadêmico.

Somados a esses deliramentos, me imagino, em meio a classe, soltando um grito de liberdade. "Vazia de doutrinas e de teorias, mas não de pensamentos e atitudes".

Me controlo.

"O absoluto existe. Existe a ciência. Sabedoria total". É o discurso do mestre. Resguardo minha a aversão ao conhecimento totalizante. "Qual o temor em ser descoberta?".

A busca do absoluto é uma piada. Entre a ignorância e o esquecimento, erros e falhas são condições da humanidade.

Para além da lógica do "penso, logo existo" de Descartes, "erro e ignoro, portanto sou", filosofo eu mesma (SANDÁLIAS, Repórter. 2009).

Saio da aula meio tonta. Quisera eu que a brancura na minha mente, naquela hora, fosse o reflexo da pureza do conhecimento. Mas não. Tudo são aparências...

Conclusão: "preciso estudar"!

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Chove, chuva!


Já disse outras vezes por aqui que eu vejo a vida em frames... Volto a esse assunto hoje só para falar de mais esse episódio do cotidiano que se repete, repete e repete de modo particular a cada novo momento, como se nunca tivesse acontecido antes. Me refiro aos dias chuvosos. E quase todo dia chove na Amazônia.

Quando o céu muda de cor, a luz do sol enternece, o ar cheira umidamente e o vento sopra mais forte e gelado, é só levantar o rosto, olhar pra cima e esperar as gotas caírem. É curioso perceber que as cenas de chuva, nessa cidade são sempre iguais e, ao mesmo tempo, sempre diferentes, porque são interpretadas de maneira diferente por cada olhar.

Cenas de amor: mãos que conduzem outras quando surpreendidas pela chuva inesperada, corpos que se abraçam para se protegerem sob a mesma sombrinha... Cenas de comédia: pés calçados se enfiando desastrosamente nas poças, escorregões nas calçadas molhadas, guardas-chuva arrebatados pelo vento... Cenas trágicas: bueiros que se entopem, canais que transbordam, ruas alagadas e casas inundadas... Cenas de solidariedade: pessoas que se encolhem sob as marquises para dar lugar a mais alguém, mutirões de vizinhos formando barricadas e suspendendo mobliários e eletrodomésticos do alcance das águas.

Eu gosto da chuva. Gosto de como ela cai e lava cada pedacinho sujo de telhado, gosto do barulinho das goteiras que escapam pelas arestas e gosto do balé das gotinhas nervosas que dançam nas vidraças dos parabrisas contra a força do vento. Gosto das formas que os pingos fazem ao atingir as poças e gosto de identificar os pequenos objetos como pedras, tampinhas de garrafa e coisas perdidas nas correntezas do meio-fio.

É muito legal esperar atenta e notar que a chuva provoca diferentes sons ao encontrar diferentes superfícies. Gosto de ver as praças vazias e molhadas, gosto de ver as copas das grandes mangueiras balançarem com o furor das águas vertidas por nuvens que choram. Gosto das vassouras atrás das portas, dos sóis desenhados a giz nas calçadas na esperança ingênua de que isso faça com que pare de chover, das crianças que esperam a chuva cair para sair de casa, correr e jogar bola, espirrando lama sob seus pés.

Em dias de chuva, gosto de olhar pro horizonte e saber que o rio está lá, mesmo embaçado. Gosto da sensação de aconchego de chegar em casa molhada, me secar e trocar de roupa. Gosto da expectativa que sentimos, tão logo a chuva comece, sobre o momento em que ela vai parar. E gosto mais ainda de saber que, mesmo ela parando agora, amanhã vai chover de novo.

É claro que a chuva tem seus incovenientes. Algumas vezes, ela nos deixa ilhados, nos faz chegar atrasados, nos deixa em casa de molho em pleno sábado à noite, nos estraga o visual do cabelo recém escovado, causa pane nos motores dos nossos carros e nos faz ficar gripados... :p Mas as cenas de chuva são as melhores. E um pouquinho de lirismo não faz mal a ninguém.

domingo, 24 de maio de 2009

Manifesto contra o Sistema

Que raios de entidade quase mística é esse tal de Sistema? Ele é onipresente, onipotente e decide sobre a vida de todo o mundo.

Dia desses, 10h da manhã, arrumo uma brecha nos afazeres e vou ao banco pagar uma conta. Primeiro, recorro ao caixa eletrônico, mas eis que recebo a seguinte mensagem: "Sistema fora do ar, dirija-se a outro terminal ou procure a agência mais próxima".

Resolvo entrar na agência bancária, templo sustentado pela entidade em questão, e me deparo com uma cena apocalíptica: clientes aos berros desesperados, gerentes estressados, computadores em pane... Todos à mercê do Sistema.

Respiro fundo e decido voltar para o escritório. Mesmo sendo o dia de vencimento da conta, posso fazer o pagamento pela internet. "Afinal, tecnologia tem que servir para alguma coisa! ".

Tento, então, acessar o site indicado, mas para a minha surpresa: "Falha no carregamento. Sistema de rede não encontrado".


"Calma", disse para mim mesma, já pensando nos juros que me renderiam o atraso no pagamento. Ainda tenho uma opção. Há um posto de serviço bancário na farmácia da esquina de casa.

No fim do dia, fui até a tal farmácia. Uma pequena fila de pessoas esperava pelo mesmo atendimento. Aguardei pacientemente e quando chegou a minha vez:

- Desculpe, não podemos receber seu pagamento - disse a mocinha nada simpática do caixa.

- MAS POR QUÊ? - perguntei.

- O Sistema não permite. Só recebemos contas no dia do vencimento até as 19h.

Olhei no meu relógio. Faltavam 3 minutos para as 19h. Mas, no relógio do Sistema, já eram 19h01. Tarde demais...

"Não é possível, joguei pedra na cruz do Sistema!", pensei. Minha penitência: pagar juros.

Será que adianta rezar?

Oh! Venerável e absoluto Sistema... EU NÃO QUERO SER PERDOADA!!

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Tributo



Há 20 anos ele se foi....

Ele se foi???

Revolucionário, controverso, explosivo, visionário, louco, esotérico... Para citar algumas maneiras de se fazer imortal. Além da música, é claro!!

Eternamente, "toca Rauuuuul"!!

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"Ninguém morre, as pessoas apenas despertam do sonho da vida."

(Raul Seixas - Discografia)

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Cuidado, pode ser contagioso!

  • O contexto
Mãos brancas, braços fortes, ombros largos. Eu já o tinha notado antes no saguão de embarque. Sentei-me na poltrona vazia ao seu lado. Ele ocupava a da janela.

- Com licença, boa noite! - eu disse.
- Boa noite! - ele respondeu educadamente, abrindo um belo sorriso.

Foi o suficiente para que, em poucos segundos, eu nos imaginasse passeando de mãos dadas, dividindo a pipoca no cinema e fazendo planos para o futuro ao pôr-do-sol...

"Engraçada, para não dizer ridícula, e até muito incoveniente essa necessidade que o ser humano tem de afeto", pensei.

Mas a viagem era longa. Nem um dos dois tinha sono. Conversamos durante todo o percurso sobre assuntos como o tempo, o motivo de nossas viagens, a gripe suína... (Hein?! Calma, eu explico).

Saímos juntos do aeroporto e, ao nos despedirmos, trocamos contatos.

Nunca mais o vi, mas me senti menos só naquela noite.

*****
  • A viagem
Qual o outro lugar socialmente instituído que melhor representa o ritmo e as particularidades da sociedade contemporânea? Os aeroportos são os pontos de convergência e também de difusão das práticas e vivências da vida (pós)moderna.

E não estou falando disso somente por conta da nova epidemia mundial de gripe suína. Bastou o breve momento em que o vírus encontrou o ar daquele ecossistema de vida pulsante e acelerada pela primeira vez para se proliferar rapidamente e ganhar o mundo sem nem precisar de passaporte.Percebi que, cada vez mais, atualmente, as experiências individuais, embora fragmentadas, se tornam instantaneamente globalizadas. Pessoas que nunca se viram ou que mal se conhecem relacionam-se entre si ou estão de alguma forma conectadas, se não pela carência emocional que têm em comum, pela propensão de suas vias aéreas em hospedar vírus altamente contagiosos, ou por qualquer outra coisa parecida.
  • O retorno
Mas o vírus já está quase mundialmente controlado. Localmente, minha recaída por afeto também. Fica a certeza de que as relações e as tendências contemporâneas são de natureza volátil e inconstante. Surgem e se diluem com a mesma facilidade de nuvens que se desmancham no ar.

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Pelo menos escapei da gripe suína... :p

Rsrsrs, viajei nesse post!!