sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Um buraco sem fundo cheio de palavras

Já faz tempo que eu não apareço por aqui. Mea culpa. É verdade. Segundo minha irmã, isso é porque eu ando mais feliz ultimamente. O que acarreta na falta de assuntos sobre os quais escrever. Ela diz que, depois que algumas coisas deram certo na minha vida, meus textos não são mais tão críticos ou irônicos como antigamente.

Pode até ser que ela tenha razão: quando estamos mais felizes, a tendência é termos um outro olhar sobre o mundo, não nos importamos mais com coisas pequenas e acreditamos mais na bondade das pessoas. Isso é errado, pois coisas ruins não param de acontecer e o que falta não são os assuntos, mas sim a minha disposição para enfrentar a realidade quando pareço estar num sonho sem hora para acordar.

Nesses dois meses que se passaram após meu último post, eu quis falar da hipocrisia da invasão do Complexo do Alemão (por que esperar uma copa para fazer o que já devia ter sido feito há séculos? Será que o que o Governo prometeu para os PMs foi melhor do que rendia os acertos com os traficas??? E que publicidade para o Tropa de Elite, heim?!); quis falar sobre o aumento da violência em Belém; sobre o nosso trânsito caótico e como os vizinhos infernizam a vida alheia. No entanto, quando começo a me indignar com essas coisas, lembro de como o amor é lindo e simplesmente deixo a nuvem negra passar...

Não que eu esteja me tornando uma alienada. Pretendo ainda cultivar o meu senso crítico, mesmo que ele esteja um tanto quanto cor de rosa atualmente. Acontece que o que me inspira neste momento não tem nada do tom satírico que sempre deixou meus textos mais interessantes para uma cara leitora sangue do meu sangue.

Deixo um pouco a ironia de lado para priorizar um lado meu que sempre existiu apesar de ter estado um tanto quanto esquecido debaixo da rudeza do meu estilo: o romantismo. Muita gente reclama que eu não tenho sensibilidade... eu não consigo imaginar uma pessoa mais sensível do que eu! Enfim, cada um com seus pontos de vista...

Vou aproveitar o clima de fim de ano, quando as pessoas costumam estar mais tolerantes, e vou postar, ainda que morta de vergonha, esse texto piegas e muito sem graça. Tenho muito mais do que isso para dizer, porém as palavras existem melhor aqui dentro, assim mesmo, embaralhadas, aleatórias, sem lógica nenhuma... E para não dizer que eu abandonei meus poucos e amados leitores, mesmo que seja só a minha irmã (rsrsr), deixo aqui os meus mais sinceros votos de boas festas, paz e muito amor no coração de todos!!

=]

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O lugar onde eu nasci

A lembrança mais antiga que eu tenho é uma em que vejo as coisas do alto, onde tudo é daquela textura translúcida, da mesma matéria que compõe os sonhos. Na verdade, ainda hoje não tenho certeza se realmente é uma lembrança ou se é um daqueles sonhos que temos e que, ao acordarmos, teimam em permanecer na nossa alma como memória de algo que vivemos em um passado distante, que não conseguimos localizar no tempo e no espaço.

Nesta lembrança, é como se eu estivesse no colo de minha mãe em um final de tarde primaveril. Estamos passeando em uma rua asfaltada, mas cercada de verde. Meu irmão anda ao lado e puxa por um pedaço de barbante um carrinho de madeira. Em uma casa próxima, há uma garota na janela de um segundo andar, que joga pétalas de flores sobre nós quando passamos por perto.

Comentei algo sobre isso com minha mãe já tem um tempo e ela me explicou que a rua era onde ficava nossa casa, quando morávamos em Manaus (AM), o lugar onde nasci, e que a garota que jogava flores era a nossa vizinha, namoradinha do meu irmão, na época com quatro anos de idade. Será que ela falou isso para instigar ainda mais a minha imaginação??? Independentemente dessa resposta, a lembrança está instalada em minha memória como um fato real.

Com efeito, nasci em Manaus. Um daqueles episódios de nossa vida sob o qual não temos gerência nenhuma, mas que são decisivos para nossa existência, como o lugar em que nascemos, o nome que levamos, a denominação religiosa em que somos batizados... Nasci apenas, e nem sequer tive chance de ter consciência de quem eu era e onde estava, fui arrebatada de lá para outro lugar: Belém (PA) e é como se aqui tivesse nascido, pois foi aqui que me identifiquei como um ser no mundo, que me tornei uma estatística e ocupei um lugar no espaço.

De Manaus, apenas criei lembranças e sonhos. Lembro de uma casa grande, branca, tinha três pátios, cada um com o chão de uma cor diferente: vermelho, azul, branco... A cozinha era de um tom laranja-tijolo, os utensílios eram vermelhos, da cor do fusca em que meu pai nos levava para passear. Tínhamos um quintal em que minha mãe armava uma piscina de plástico aos domingos. Meus avós, que moravam em um conjunto residencial chamado Jornalista, vinham nos visitar com frequência. Coincidência ou não, hoje eu sou jornalista...

Não tenho registros mentais de ter estado quando criança na Ponta Negra, no Teatro Amazonas ou ter testemunhado o encontro das águas do Rio Negro com o Rio Solimões, mas é como se esses lugares fizessem parte de mim de tanto ter ouvido falar neles, pois pertencem ao lugar onde eu nasci. O caso é que até pouco tempo havia uma Manaus na minha memória do jeito que eu a havia criado e que tantas vezes eu visitei em sonhos infantis e outra, a que realmente existe e que constitui a capital de um estado da federação brasileira: o Amazonas, sobre o qual eu apenas conhecia de livros e das conversas de meus pais.

Conheci, de fato, o lugar onde eu nasci aos 25 anos. A cidade deve ter mudado desde o tempo em que a habitei, antes mesmo de completar o meu primeiro ano de vida. Percebi que o lugar é bem mais do que a casa com os três pátios, o quintal e o conjunto residencial dos meus avós. Ela também não tem nada dos estereótipos criados pelos livros preconceituosos que a figuram como um lugar de florestas, animais selvagens e índios por toda a parte. A Manaus real entrou em choque com a Manaus da minha memória e a Manaus que gostariam que ela fosse.

Gostei de tê-la conhecido, mas não tenho certeza se poderei substituí-la dentro de mim. Prefiro guardar a imagem fantasiosa que eu mesma criei, do que carregar na alma a concretude de uma metrópole que não tem nada de diferente das outras. O lugar onde eu nasci era especial, tão especial que nem mesmo sabia como ele era. Desvendá-lo, é como desencantar uma parte de mim que só existia no devaneio e na imaginação e, por isso, era mais bela e mais pura.

Benditas as coisas que não sei
Os lugares que não fui
Os gostos que não provei
Meus verdes ainda não maduros
Os espaços que ainda procuro
Os amores que nunca encontrei
Benditas coisas que não sejam benditas

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segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O escritor moderno e a (neo)literatura

Em mais uma Feira Pan-Amazônica do Livro, Belém do Pará movimenta o mercado editorial com títulos locais, nacionais e internacionais para todos os gostos, todas as idades, todos os bolsos... e blá, blá, blá... Quem é paraense, vive em Belém, tem o mínimo de senso crítico e já passou por uma das edições da Feira, hoje na sua XIV versão, não consegue mais ver no evento uma grande oportunidade para despertar paixões pela leitura.

Em uma região com tão poucas políticas públicas voltadas para o fomento da cultura e lazer, qualquer evento gratuito de amplo alcance é sucesso de plateia. Tudo bem que a Feira movimenta ideias, põe conhecimento em circulação, mas nem tudo ali é acessível, a não ser os best sellers em preço promocional e os shows de cantores populares ao ar livre que só reproduzem o que está na mídia.

Esse pode até ser um olhar pessimista, mas é verdadeiro. Foi-se o tempo, talvez nas suas primeiras edições, que a Feira trazia para cidade os grandes escritores e as grandes obras. Agora, eles são simples pano de fundo para uma estratégia comercial que não passa de uma imensa celebração à cultura de massa, com alguns poucos momentos que valem a pena.

Posso estar sendo apocalíptica ou conservadora demais... O fato é que hoje fui visitar a Feira e participei do bate-papo sobre literatura com o escritor Mário Prata. Fiquei um pouco decepcionada, não vou mentir, quando ele confundiu várias vezes Belém com "Natal" e que achava um absurdo jovens terem que ler "O Cortiço", do Eça de Queiroz, como leitura obrigatória para o vestibular. Tudo bem errar o nome da cidade, isso acontece, embora várias vezes seja demais. Mas, "O Cortiço", é do ALUÍZIO DE AZEVEDO!!!

O bate-papo foi um tanto quanto bizarro. Além de "ralhar" com crianças que riam na plateia e discutir com o público qual a posição sexual preferida entre homens e mulheres o que, confesso, rendeu umas boas risadas, ele disse que a literatura no vestibular é NOCIVA.

É verdade que ainda há muito a ser feito para conquistar a simpatia dos jovens vestibulandos às leituras que não deveriam ser feitas por obrigação e sim por prazer, mas como fazê-los ter acesso aos clássicos se estão rodeados pela cultura de massa???

Rever os conteúdos programáticos dos vestibulares para que passem a cobrar leituras, ainda que canônicas, mais agradáveis, menos densas e mais adequadas à realidade dos jovens é um fato que não só o Mário Prata já percebeu, como milhares de pedagogos, professores e escritores também o fizeram. A verdade é que não dá para trocar o Machado de Assis pela Stephenie Meyer, autora de "Crepúsculo", porque com ela não se aprende Língua Portuguesa!!! E ainda corre-se o risco de despertar nos adolescentes predisposições sádicas a hábitos de vampirismo...

O Mário Prata é um escritor aos moldes da Stephenie Meyer. Ele escreve crônicas e romances por encomenda. Há inovação nas suas práticas e democratização da informação, pois ele escreveu um romance inteirinho, "Os anjos de badaró", tendo como suporte um blog e uma webcam. Isso é um ponto positivo. Mas, para mim, não pareceu digno quando ele comentou sobre as vantagens de receber $$ antecipadamente para escrever trillers policiais que simplesmente divertem o público, receber $$$ para participar de eventos como o da Feira Pan-Amazônica do Livro e divertir o povo com uma imagem excêntrica, receber $$$$ para fazer do seu momento de produção literária um reality show eletrônico e divertir os internautas...

A imagem que Mário Prata me passou foi a de um escritor contemporâneo, totalmente adaptado aos padrões da Indústria Cultural. Um autor que se afasta da ideia de "autor romântico", que nasceu para escrever, pois ele mesmo revela que é matemático e, antes de se "descobrir", escritor trabalhava como economista, até que as habilidades com os números o fizeram perceber que estar entre os mais lidos pode ser um negócio bastante rentável se acopanhar as exigências da mídia.

Tudo bem, os escritores precisam sobreviver, mas, dessa forma, a Literatura perde a magia... Se os escritores não conservarem a aura à palavra escrita, não é a indústria de massa que o fará. Eu só tenho pena da nova geração, que poderá nunca entender a diferença entre Stephenie Meyer e Machado de Assis, pelo menos não até que os próprios escritores valorizem sua arte ao invés de fazer dela mera mercadoria.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar

Este post é dedicado à minha queridíssima irmã. Embora distante, não por isso menos amada

Também é deste modo que o destino costuma comportar-se conosco, já está mesmo atrás de nós, já estendeu a mão para tocar-nos o ombro.

Esse é mais um caso em que as palavras viram contra o escritor.... O trecho é de “O conto da Ilha Desconhecida”, um dos mais belos e enigmáticos da carreira de José Saramago, um ateu que entendeu a vida filosoficamente, mais do que ninguém, até o seu último suspiro.

O escritor português era um dos maiores nomes da literatura contemporânea, vencedor do prêmio Nobel de Literatura no ano de 1998 e de um prêmio Camões - a mais importante condecoração da língua portuguesa. E, há exatamente sete dias, foi silenciado pelo destino, o único antagonista da vida e do próprio homem.

Dentre as produções mais elaboradas de sua carreira, “Ensaio sobre a Cegueira”, “O evangelho segundo Jesus Cristo”, “Memorial do Convento” e o mais recente “Caim”. Todas permeiam a essência da condição humana, representam o homem diante do dilema mais cruel e doloroso da vida: o existencial.

Mas é em uma das suas histórias mais simples e curtas, na minha humilde opinião de leitora, que o escritor vai mais a fundo na descrição do que todo homem deseja e espera da vida. “O conto da Ilha desconhecida” traz como personagem principal “o homem”, um homem qualquer que empreende uma busca obscura, porém necessária, que reflete a natureza de toda a humanidade.


E, talvez, seja exatamente esse o intuito de Saramago ao não usar nomes para seus seres de papel, referindo-se a eles apenas por alguma de suas características físicas ou psicológicas, na tentativa, talvez, de permitir que o leitor se identifique com eles e possibilitando que cada um de seus personagens pudesse vir a ser a representação de cada um de nós.

“O conto da Ilha desconhecida” é uma crítica justamente à ideia de que os seres humanos nascem fadados a um dado destino previamente definido, se tornando impotentes diante do mundo e se conformando com o que a vida naturalmente lhes proporciona. A narrativa nos impulsiona a buscar o desconhecido, a enfrentar nossas limitações e tomarmos as decisões que possam dar sentidos diferentes a nossa existência, caso sejamos capazes de ultrapassar toda a moral, normas de conduta e pré-conceitos que nos rodeiam.

E vieste aqui para me pedires um barco, Sim, vim aqui para pedir-te um barco, E tu quem és, para que eu to dê, E tu quem és, para que não mo dês, Sou o rei deste reino, e os barcos do reino pertencem-me todos, Mais lhes pertencerás tu a eles do que eles a ti, Que queres dizer, perguntou o rei, inquieto, Que tu, sem eles, és nada, e que eles, sem ti, poderão sempre navegar.

Saramago entendeu em seus 87 anos de vida, que “todo homem é uma ilha”, na medida em que cada ser encerra dentro de si algo de essencial que o torna único e inigualável. O escritor compreendeu também que “é necessário sair da ilha para ver a ilha, que não nos vemos se não nos saímos de nós”. À revelia do destino, na vida, estamos sujeitos a uma série de embates com o status quo, com o estado consolidado das coisas. O mérito da existência humana vem da resistência às adversidades.

Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites, manhãs e madrugadas em que não precisamos de morrer. Então, sabemos tudo do que foi e será.

porque

Todos sabemos [ou pelo menos deveríamos saber] que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é só um dia mais.

A Ilha Desconhecida que tanto procurava o “homem” do conto de Saramago, na realidade, o tempo todo, estava no interior dele próprio. O desafio maior da personagem era o de dar sentido à própria existência e conseguiu concretizar esse desejo ao enfrentar o seu próprio destino e não sucumbir aos perigos e riscos que poderia sofrer ao mergulhar na aventura de um novo amor.

É preciso variar, se não tivermos cuidado a vida torna-se rapidamente previsível, monótona, uma seca...


E para um sábio homem que concebe a verdade de que “viver sozinho é um duríssimo castigo”. O que está implícito na moral da história do grande escritor português é claramente expresso por outro, não menor, representante das letras brasileiras, João de Guimarães Rosa, que, em "Grande Sertão Veredas", diz: “Só se pode viver perto do outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tiver amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso da loucura”.

*****
Para ler a íntegra de “O conto da Ilha Desconhecida”, clique aqui.

Outros pensamentos de José Saramago em Pensador.Info.

Grande Sertão Veredas, está disponível aqui.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Passeios pelos bytes da ficção

Começa a escurecer e a penumbra toma conta do ambiente, o que me faz apertar os olhos diante da claridade do computador. Chove lá fora e todos já foram embora. Estou sozinha no escritório. Ouço passos. Rumores fugazes no corredor. Olho para trás, mas não vejo nada. Atribuo os sons à minha imaginação fértil, porém cansada, e, volto ao trabalho. Em seguida, sinto algo tocar em meu ombro...

- Aaahhhhh!!!


Mentira, isso é mentira.


Na realidade, estou forçosamente em uma sala de reunião. O assunto em pauta é sacal. Cada minuto completado parece uma eternidade. Olho o quadro com uma paisagem bucólica pendurado na parede e me imagino entrando na tela, navegando num mar de tinta, rumo ao pôr-do-dol.


Mas isso é outra mentia.


Na verdade verdadeira, estou em meu quarto, com uma caneca de café. É dia claro e escrevo no meu blog, enquanto deveria estar lendo uma pilha de textos para o Mestrado. Entretanto, quem garante que a cena é realmente essa?


De fato, estou em frente ao computador, mas não bebo café...


*****


Ultimamente a vida não tem sido interessante o bastante para render posts. O dia-a-dia comum, o ordinário. Eu poderia inventar coisas e entreter meus leitores com a boa e velha ficção, mas eis que minha imaginação não é tão fértil assim. Como diria Umberto Eco, "os mundos ficcionais são parasitas do mundo real" (Seis passeios pelos bosques da Ficção. cia das Letras, 2004).


quinta-feira, 1 de abril de 2010

1/4 de século

Depois de muito tempo, hoje, olhei pela janela e vi a grama mais verde, viva, e não seca. Os campos floresceram. Após muitos anos de inverno, cheguei na prinavera de minha vida e, neste dia tão especial, completo 25 anos... Kkkkkkk, fala sério!!!!

Parece até piada de 1º de abril, porque, quem me conhece sabe que eu sempre odiei fazer aniversário. Ficção ou realidade, o período da data do meu nascimento, muitas vezes, representou para mim um verdadeiro inferno astral.

Mas é verdade que, dessa vez, não estou tão abalada por estar envelhecendo. Ainda que a força do hábito me obrigue a lamentar um pouco e arrepiar com o agouro do azar que já me fez adoecer, pegar chuva e ficar no prego na estrada quando deveria estar ganhando presentes e "parabéns pra você", sinto-me feliz.

"O futuro não é mais como era antigamente", como diria Renato Russo. Atingi alguns objetivos, realizei alguns sonhos e a vida, enfim, se tornou mais leve. Certas pessoas dirão que pode ser culpa do amor, outras diriam que estou amadurecendo, ou quem sabe, ambos os motivos.

Continuo com medo de envelhecer, a solidão ainda me assusta, outros sonhos permancem por realizar, mas, esse ano, decidi tentar a técnica do pensamento positivo: "mentalizar coisas boas atrai coisas boas". E assim pretendo levar minha vida deste 1/4 de século em diante.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Queridos leitores

Em mais um episódio da minha recém-renascida vida acadêmica, passei por um aprendizado valioso que não poderia deixar de compartilhar. Se você adora ler e devora qualquer tipo de literatura sem amarras ou preconceitos, cuidado! Não afirme isso em público, principalmente se a platéia for formada por pseudo-cults ou criaturas que tenham um currículo lattes maior do que o de Sócrates, Platão ou Aristóteles, sob pena de ser tachado como portador de uma intelectualidade vaga e superficial.

Definitivamente, Paulo Coelho ("O Alquimista"), Dan Brown ("Código da Vinci") e J. K. Rowling ("Harry Potter"), são os autores com quem você jamais pode admitir qualquer tipo de relação, pois, piores que os best sellers, somente os livros de auto-ajuda e os romances estilo Júlia e Sabrina. Isso pode custar a integridade de sua inteligência e olhares acusadores que transparecem a dúvida se você ingressou no mestrado por mérito próprio ou devido a favores de terceiros.


Aqui, só entre nós, confesso que pequei e várias vezes já me deleitei, me diverti e chorei com as páginas de alguns dos livros que constam a lista dos mais vendidos. Não me orgulho disso, mas também não me arrependo, porque qualquer leitura é válida. Mesmo que não possa acrescetar conteúdo profundo e blá, blá, blá, pelo menos permite desenvolver a capacidade crítica e, a partir daí, a possibilidade de amadurecer e refinar o gosto. Na minha opinião (que os teóricos e professores não me leiam!), literatura boa ou ruim é uma questão de ponto de vista.


Depois da fase da Turma da Mônica, da Revista Capricho e dos jornais de domingo, comecei com Paulo Coelho (não contem pra ninguém), e, aí, percebi que as leituras obrigatórias do ensino médio não eram tão ruins assim. Pelo contrário, notei que, perto do mago, Machado de Assis, Eça de Queriroz e até o Guimarães Rosa foram verdadeiros gênios.


Foi assim que me tornei uma ávida leitora de clássicos, tão valorizados pela academia. Isso não me impede de dar uma escapulida de vez em quando à lista dos best sellers. Ainda que tais leituras não mudem a minha vida, é possível encontrar entre elas um ou outro talento promissor que garanta emoções fugazes e horas agradáveis de solta imaginação.


A seguir, uma lista com os livros que mudaram a minha vida, não necessariamente nessa ordem. Alguns são clássicos, outros nem tanto assim.


1 - Cem anos de solidão - Gabriel Garcia Márquez

2 - Memórias Póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis

3 - Dom Casmurro - Machado de Assis

4 - Primo Basílio - Eça de Queiroz

5 - O crime do Padre Amaro - Eça de Queiroz

6 - Ensaio sobre a cegueira - José Saramago

7 - O Mundo de Sofia - Jostein Gaarder

8 - O homem feito - Fernando Sabino

9 - Budapeste - Chico Buarque

10 - Grande Sertão Veredas - Guimarães Rosa


E você? Quais os livros que valeram a pena?

quarta-feira, 10 de março de 2010

Ai

Há tempos não vivia dias como os que tenho passado ultimamente. Uma rotina dura, cansativa, esmagadora: trabalhar, estudar, estudar, trabalhar... Parece que tenho deixado de lado as sandálias, afinal! De repente, é como se os únicos momentos que tenho para relaxar são a hora do banho e quando volto pra casa, ouvindo música ao volante (e isso só quando o trânsito de uma Belém que já está ficando pequena para a quantidade de carros que possui em circulação não me deixa louca)!!
Essa semana, muito me assutou a previsão de uma professora que, em sala de aula, falou que vida acadêmica e vida pessoal definitivamente não podem ocupar o mesmo corpo humano no espaço. "Lista de supermercado e referências bibliogáficas são duas coisas que realmente não co-existem", disse. E eu sou o tipo de pessoa que acredita facilmente no que as outras pessoas dizem... "As meninas que fazem mestrado não se casam, os meninos que fazem mestrado não se casam, e, os seus únicos e melhores amigos passam a ser os livros", profetizou.
Isso me provocou um arrepio na espinha e uma dor aguda nas entranhas que se manifestou em um quase inaudível, mas que em muito sintetizou o que senti: AI!
E eu que sempre tive uma boa relação com os livros...
Começo a apresentar sintomas estranhos: um certo olhar vidrado, um embaralhamento de ideias, esquecimentos múltiplos e constantes, uma diminuição considerável das minhas horas de sono e uma falta de tempo crônica. Tudo isso por causa de páginas e mais páginas, frases e mais frases, parágrafos e mais parágrafos, palavras, palavras, palavras... Teorias diversas, conceitos escabrosos, postulados, formulações... Agora, leio romances por obrigação e não por lazer, e, ao invés de um por mês, cinco por semana.
Foram só duas semanas de aula até agora e já deu pra perceber que, realmente, o negócio não é mole, não! Nada de pudins pelos próximos dois anos...
Portanto, não estranhem se eu andar ausente dessas paragens. O sacrifício será por uma boa causa: uma tentativa, que prevejo extenuante, de pesquisar e entender a blogosfera, meu objeto de estudo. Se as forças positivas do universo assim permitirem, o esforço resultará em uma vasta, interessante e promissora dissertação de mestrado.
Só espero, depois disso, não acabar como uma solteirona seca, com olheiras, rugas, poucos amigos, citando Foucault em qualquer bate-papo de esquina e incapaz de fazer umas inofensivas compras de supermercado...
AI!

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Quem não arrisca, não petisca

Os jogos de inverno, definitivamente, tiraram o brilho do Jornal Nacional. Mas não é de hoje que a concorrência entre o JN e o Jornal da Record está páreo a páreo. Para alcançar o primeiro lugar no ibope, vale tudo. O que dirá o JR!!

O showzinho disfarçado de telejornalismo que vai ao ar somente aos fins de semana, na Rede Globo, com o Fatástico, é exibido diarimente no canal do bispo em "horário nobre", ainda mais com a apresentação ao vivo das olimpíadas pela Ana Paula, que, aliás, perdeu totalmente o padrão... E isso aconteceu desde o primeiro passeio que ela foi dar lá pelas bandas do SBT.

Trocadilhos à parte, quem não se lembra da classe que tinha o olhar da jornalista ao trocar de câmera no Jornal da Globo numa postura séria e super profissional. Talvez seja caretisse minha ou talvez seja só o meu cérebro que esteja com dificuldades para processar a imagem da Ana Paula Padrão, na Rede Record, em uma figura um tanto quanto histérica, irritantemente sorridente e extremamente empolgada, como aparece ao ancorar a transmissão de Vancouver.

Mais incomum ainda é notar a utilização de vocabulários como "pimba", em referência a quedas de patinadoras no gelo, e o destaque dado a reportagens, exibidas em tom de seriedade, como a da saga de um carangueijo gigante canadense que saiu do aquário do restaurante direto para a panela.

Esse, quem sabe, seja o castigo do profissional que troca a emissora que lhe levou ao topo do sucesso por maiores salários e promessas de fama. Veja o que aconteceu com Ana Paula Padrão, Carlos Nascimento, Mônica Waldvogel, Roberto Cabrini, Paulo Henrique Amorim, Cláudia Cruz, Marcelo Rezende, José Luiz Datena, dentre tantos outros... Como "quem não arrisca, não petisca", é preciso se adaptar!!

Assista aqui às últimas edições do JR.



domingo, 21 de fevereiro de 2010

Esse rio é minha rua

Dizem que às seis horas da tarde os rios da Amazônia não pertencem a ninguém, a nenhuma criatura humana. É nesse horário que a natureza toma conta das águas e liberta os encantados. Como que, ainda hoje, a cultura amazônica pode ser tão povoada por narrativas míticas e de cunho fantástico?

Em um ritmo alheio ao de qualquer grande cidade, a Ilha do Marajó é um paraíso verde, banhado por ondas insalubres, da cor de terra molhada. Lá, a subsitência provém da natureza, do que permite o clima, da consistência do leite de búfala, que depende da quantidade de chuvas que cai e da cheia dos rios, que fazem render o capim, as mangas, os peixes, os tucumãs...

Até o
boto acompanha os pescadores somente na hora da chuva, ele vai mostrando o caminho, como se fosse o momento em que o céu abençoasse as águas. Mas quando o barco é forasteiro, ele brinca, engana, trapaceia, mete medo... Cinco dias na ilha, cinco dias em que fiquei com os olhos atentos para ver nem que fosse de relance essa criatura tão cercada de significados.


Mesmo sendo amazônida, eu compreendo porque, talvez, o boto me tenha visto como estrangeira naquelas terras marajoaras. Sou gente de zona urbana, da turma que chega fazendo barulho e mudando a paisagem.

Ainda que saiba admirar as belezas do lugar, não pertenço a ele, meus costumes são outros, meus valores não são os mesmos do povo de lá. Se para mim o rio é rua, para o marajoara é o peito, é a alma, é essência de vida e fé. Quisera eu merecer, um dia, desvendar os encantos dessa maré.

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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

E o verbo se fez byte

Quando o que se quer dizer extrapola as palavras....

É interessante perceber o quanto as linguagens cada vez mais convergem para um hibridismo curioso. Hoje, o que não se pode dizer com palavras se expressa
em imagens, cores e sons.

A poesia, que antes se limitava à escrita, agora, é visual. O sentimento do outro é quase palpável, mas a interpretação permanece como um signo aberto.

Mudam-se os meios, mudam-se as formas, são diferentes as mensagens, diversos os discursos, mas o princípio é o mesmo: comunicar.


O que há no verso da página que eu não posso virar??

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Metrópole em desconstrução

Entre o corredor de mangueiras paraense e o corredor de concreto paulistano, não preciso nem dizer qual deles eu prefiro. Estas, sem dúvida, são as férias mais estranhas que já tive. São Paulo é uma metrópole em desconstrução. Sabe o estereótipo das milhares de pessoas andando apressadas de um lado para o outro, os rostos tristes e cansados no metrô, os arranha-céus e o amanhecer cinza e carregado que compõe a imagem mental da maioria quando se refere à capital brasileira do consumo? São paulo é exatamente assim.


A única coisa que se faz nessa cidade são compras, além do disfrute de uma vida boêmia até divertida, porém vazia, que resulta nas olheiras dos rostos tristes e cansados que se vê no tal do metrô, formando um ciclo autodestrutivo, principalmente se somado aos intervalos de almoço que mal permite tempo para um fast food, sem falar nas horas gastas no trânsito, seja em congestionamentos monumentais, seja simplesmente se transportando, pois para todo lugar que se vai é preciso, no mínimo, andar três quadras de ladeiras, pegar dois ônibus e um metrô.

O custo de vida aqui é altíssimo, não se gasta menos de R$ 15 em um almoço que não te faça estar esfomeada novamente às 15h. E isso não é a toa. As pessoas trabalham como condenadas para poder arcar com esse custo e, claro, poder comprar mais e mais. Roupas, sapatos, bolsas, relógios, perfumes, cosméticos, óculos escuros, óculos de grau, eletroeletrônicos de todo o tipo, cortador de pêlo de nariz e orelha, raquete matadora de insetos, soutian com peito falso de silicone... tudo se encontra na Rua 25 de Março e não apenas nela, são várias as ruas onde, nessa cidade, apenas se vende e apenas se compra... prato cheio para os chineses que vêm comercializar aqui os made in da vida e faturar com consumidores enlouquecidos. Tudo é muito barato, tudo em liquidação, as melhores marcas e as imitações das melhores marcas, cópia da cópia, simulacro do simulacro com 50% de desconto. E lá está você caindo na armadilha!

Aqui as pessoas acumulam coisas e são movidas pela ilusão do consumo, o fetiche da posse e o prazer do ter e não dividir com ninguém. E a desigualdade social é gritante: a cada esquina um mendigo, dois, três, famílias inteiras fazendo residência nas calçadas e praças do centro mal cuidado, quando não são jovens entregues ao crack. Qual a outra opção, vender falsificados na 25 de março? Cuidado com o rapa!


Mas dentre tantos pontos negativos, existem os positivos. Não há tanto lixo nas ruas, os motoristas de ônibus respeitam as paradas e os passageiros e, em vários bairros, podemos encontrar parques ambientais de acesso gratuito como oásis em meio ao maciço de concreto. As pessoas também, pode-se dizer, vlorizam uma boa leitura. Além de turistas como eu, crianças, aposentados, praticantes de exercícios físicos, o que se vê nos parques em dias de semana são pessoas lendo! Sem falar na famosa Livraria Cultura, um paraíso para qualquer amante das letras: três andares de títulos de todos os gêneros e todas as ciências, para t
odas as idades e todos os gostos. A arte também ganha destaque, há muitos museus com bom acervo e bem visitados, teatros e cinemas com infinidades de espetáculos e filmes em cartaz.

No entanto, faz dez dias e já tive a minha overdose do ritmo alucinado de São Paulo. O pior é que ainda faltam mais cinco antes de poder voltar pra casa, matar a saudade dos meus, sentir o cheiro de rio e a atmosfera de uma metrópole provinciana que só se encontra na Amazônia. Já fiz apologia à minha terrinha em outros posts, mas nunca me senti tão paraense, não posso deixar de dizer que é só no Pará que se inala o aroma do tacacá pelas esquinas, se toma açaí na tigela com farinha de tapioca e não com energético, se demora apenas (isso mesmo, "apenas" se comparado a São Paulo) 30 minutos, no máximo, em engarrafamentos e o mais importante de tudo: pode-se ver o sol se pôr no horizonte e não por entre prédios e fumaças.

Tive experiências interessantes aqui, sobretudo diferentes das minhas costumeiras (nunca me senti tão fútil), me diverti e vivi bons momentos, mas volto para casa com a felicidade que sei que causam os reencontros e, claro, com o cartão de cédito estourado... Mas nada como um fim de tarde na minha pacata Belém para curar todos os males. Meu amor, já estou chegando!!!


"Belém, Belém, és minha bandeira, és a flor
que cheira no Grão Pará"


=)