segunda-feira, 25 de maio de 2009

Chove, chuva!


Já disse outras vezes por aqui que eu vejo a vida em frames... Volto a esse assunto hoje só para falar de mais esse episódio do cotidiano que se repete, repete e repete de modo particular a cada novo momento, como se nunca tivesse acontecido antes. Me refiro aos dias chuvosos. E quase todo dia chove na Amazônia.

Quando o céu muda de cor, a luz do sol enternece, o ar cheira umidamente e o vento sopra mais forte e gelado, é só levantar o rosto, olhar pra cima e esperar as gotas caírem. É curioso perceber que as cenas de chuva, nessa cidade são sempre iguais e, ao mesmo tempo, sempre diferentes, porque são interpretadas de maneira diferente por cada olhar.

Cenas de amor: mãos que conduzem outras quando surpreendidas pela chuva inesperada, corpos que se abraçam para se protegerem sob a mesma sombrinha... Cenas de comédia: pés calçados se enfiando desastrosamente nas poças, escorregões nas calçadas molhadas, guardas-chuva arrebatados pelo vento... Cenas trágicas: bueiros que se entopem, canais que transbordam, ruas alagadas e casas inundadas... Cenas de solidariedade: pessoas que se encolhem sob as marquises para dar lugar a mais alguém, mutirões de vizinhos formando barricadas e suspendendo mobliários e eletrodomésticos do alcance das águas.

Eu gosto da chuva. Gosto de como ela cai e lava cada pedacinho sujo de telhado, gosto do barulinho das goteiras que escapam pelas arestas e gosto do balé das gotinhas nervosas que dançam nas vidraças dos parabrisas contra a força do vento. Gosto das formas que os pingos fazem ao atingir as poças e gosto de identificar os pequenos objetos como pedras, tampinhas de garrafa e coisas perdidas nas correntezas do meio-fio.

É muito legal esperar atenta e notar que a chuva provoca diferentes sons ao encontrar diferentes superfícies. Gosto de ver as praças vazias e molhadas, gosto de ver as copas das grandes mangueiras balançarem com o furor das águas vertidas por nuvens que choram. Gosto das vassouras atrás das portas, dos sóis desenhados a giz nas calçadas na esperança ingênua de que isso faça com que pare de chover, das crianças que esperam a chuva cair para sair de casa, correr e jogar bola, espirrando lama sob seus pés.

Em dias de chuva, gosto de olhar pro horizonte e saber que o rio está lá, mesmo embaçado. Gosto da sensação de aconchego de chegar em casa molhada, me secar e trocar de roupa. Gosto da expectativa que sentimos, tão logo a chuva comece, sobre o momento em que ela vai parar. E gosto mais ainda de saber que, mesmo ela parando agora, amanhã vai chover de novo.

É claro que a chuva tem seus incovenientes. Algumas vezes, ela nos deixa ilhados, nos faz chegar atrasados, nos deixa em casa de molho em pleno sábado à noite, nos estraga o visual do cabelo recém escovado, causa pane nos motores dos nossos carros e nos faz ficar gripados... :p Mas as cenas de chuva são as melhores. E um pouquinho de lirismo não faz mal a ninguém.

3 comentários:

Controversus disse...

Obrigado querida. Também gosto da forma como escreves. Nem sempre comento, mas sempre venho dar uma olhadinha. Vou continuar sim, senão eu piro de vez :-P

bjo

Alan Araguaia

Rosyane disse...

Querida, passei por aqui para tomar algumas lições. Vou começar meu exercicio esse final de semana. Obrigada pelas dicas! Em caso de dúvidas, te procuro. Bjs

Andréa Mota disse...

muito bom..

fui transportada para os dias chuvosos de todas as formas e carregada de muitas lembranças.

:))