segunda-feira, 4 de maio de 2009

Cuidado, pode ser contagioso!

  • O contexto
Mãos brancas, braços fortes, ombros largos. Eu já o tinha notado antes no saguão de embarque. Sentei-me na poltrona vazia ao seu lado. Ele ocupava a da janela.

- Com licença, boa noite! - eu disse.
- Boa noite! - ele respondeu educadamente, abrindo um belo sorriso.

Foi o suficiente para que, em poucos segundos, eu nos imaginasse passeando de mãos dadas, dividindo a pipoca no cinema e fazendo planos para o futuro ao pôr-do-sol...

"Engraçada, para não dizer ridícula, e até muito incoveniente essa necessidade que o ser humano tem de afeto", pensei.

Mas a viagem era longa. Nem um dos dois tinha sono. Conversamos durante todo o percurso sobre assuntos como o tempo, o motivo de nossas viagens, a gripe suína... (Hein?! Calma, eu explico).

Saímos juntos do aeroporto e, ao nos despedirmos, trocamos contatos.

Nunca mais o vi, mas me senti menos só naquela noite.

*****
  • A viagem
Qual o outro lugar socialmente instituído que melhor representa o ritmo e as particularidades da sociedade contemporânea? Os aeroportos são os pontos de convergência e também de difusão das práticas e vivências da vida (pós)moderna.

E não estou falando disso somente por conta da nova epidemia mundial de gripe suína. Bastou o breve momento em que o vírus encontrou o ar daquele ecossistema de vida pulsante e acelerada pela primeira vez para se proliferar rapidamente e ganhar o mundo sem nem precisar de passaporte.Percebi que, cada vez mais, atualmente, as experiências individuais, embora fragmentadas, se tornam instantaneamente globalizadas. Pessoas que nunca se viram ou que mal se conhecem relacionam-se entre si ou estão de alguma forma conectadas, se não pela carência emocional que têm em comum, pela propensão de suas vias aéreas em hospedar vírus altamente contagiosos, ou por qualquer outra coisa parecida.
  • O retorno
Mas o vírus já está quase mundialmente controlado. Localmente, minha recaída por afeto também. Fica a certeza de que as relações e as tendências contemporâneas são de natureza volátil e inconstante. Surgem e se diluem com a mesma facilidade de nuvens que se desmancham no ar.

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Pelo menos escapei da gripe suína... :p

Rsrsrs, viajei nesse post!!

Um comentário:

Anônimo disse...

Curto muito tua escrita. bjs Fabíola